“As empresas ainda resistem à mudança”

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Melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal dos colaboradores “torna as empresas mais competitivas e produtivas, ao mesmo tempo que melhora os índices de atracção e retenção de talento”. Quem o afirma é Laura Sánchez, responsável de projectos da Fundación Másfamilia que, em entrevista a propósito da parceria da Fundação espanhola com o Programa AconteSer, sublinha que ainda existem resistências à adopção das novas formas de trabalho e dos novos paradigmas da gestão
POR GABRIELA COSTA

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No âmbito do Programa AconteSER, que tem como objectivo de ajudar a combater a falta de competitividade das micro, pequenas e médias empresas em Portugal, através da partilha de boas práticas que potenciem a acção empresarial, está a decorrer, desde Janeiro, um ciclo de seminários dedicados aos eixos centrais e principais áreas temáticas deste programa. Liderado pela ACEGE, em parceria com a CIP, IAPMEI, APIFARMA e CGD, o projecto dedicado à promoção de lideranças socialmente responsáveis conta ainda com o apoio do QREN-COMPETE – Fundo Europeu para o Desenvolvimento Regional.

Integradas neste novo ciclo de seminários, que assinala o arranque do AconteSer em 2013, estão diversas formações em questões chave como liderança responsável em tempos de crise, reposicionamento estratégico, gestão de incertezas e desenvolvimento pessoal e profissional. Na área da Conciliação Família/Trabalho, um dos três eixos centrais do Programa AconteSer, tiveram lugar a 29 de Janeiro, em Óbidos e em Leiria, a 30 de Janeiro, em Viseu e em Coimbra, e a 31 de Janeiro, no Porto, com a parceria das delegações locais da ACEGE, várias sessões cuja formação esteve a cargo de Laura Sánchez, responsável de projectos da Fundación Másfamilia.

A organização sediada em Espanha desenvolve acções com vista a garantir a segurança, bem-estar e qualidade de vida das famílias, tendo particular atenção à coesão social. Tendo por missão a defesa do “tão necessário mas, às vezes, difícil equilíbrio: pessoa – família – empresa – sociedade”, a Fundación Másfamilia visa ser uma referência em matéria de conciliação e igualdade, através de “objectivos, estratégias e ferramentas inovadoras e altamente profissionais, que apontem soluções à família”.

Em entrevista, Laura Sánchez reconhece que, em contexto de crise económica e social, que tendencialmente gera “uma diminuição das preocupações com a coerência na gestão e a ética profissional”, a contribuição deste factor da conciliação para as empresas fica mais condicionado.

Consciente de que “estamos a viver num estado de sobrevivência constante”, Laura Sánchez recorda o consenso entre especialistas a propósito da convicção sobre a melhor forma para ultrapassar a crise: “procurando novas oportunidades, com inovação e com ideias criativas”. Para concluir que “todas estas características residem, precisamente, nas pessoas”.

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Laura Sánchez, responsável de projectos da Fundación Másfamilia
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Esteve recentemente em Lisboa na qualidade de formadora nos seminários do Programa AconteSer dedicados à conciliação entre trabalho e família. Quais são os objectivos destas acções que disseminam o conceito entre as empresas, convidando-as a aderirem a este compromisso e a serem certificadas como “empresas familiarmente responsáveis”?
O Programa AconteSer pretende ajudar a combater a falta de competitividade nas micro, pequenas e médias empresas, através do intercâmbio das melhores práticas que fomentam a acção corporativa. Este programa é liderado pela ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores, organização que colabora com a nossa Fundação com o objectivo de fazer chegar a essas pequenas e médias empresas a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar, área em que a Fundación Másfamilia é especialista.

Que balanço faz das quatro acções decorridas entre 29 e 31 de Janeiro, em Leiria, Viseu, Coimbra e Porto, ao nível da participação, e ao nível da motivação reunida entre as empresas para adoptarem uma cultura organizacional que inclua este factor da Conciliação Família/Trabalho?
A iniciativa, assente num conjunto de workshops organizados pela ACEGE um pouco por todo o País, permitiu-nos partilhar com mais de 120 profissionais de pequenas e médias empresas as inúmeras experiências que fomos adquirindo na Fundación Másfamilia, nesta matéria da conciliação profissional e familiar. A receptividade que tivemos foi para nós surpreendentemente gratificante.

A Fundación Másfamilia defende que esta política traz benefícios ao nível da produtividade das empresas. De que modo contribui a área da Conciliação Família/Trabalho para que as empresas liderem com responsabilidade, como é desígnio do Programa AconteSer?
A contribuição deste factor da conciliação para as empresas – principalmente nestes momentos de crise, durante os quais se verifica, por vezes, uma diminuição das preocupações com a coerência na gestão e a ética profissional -, é fundamentalmente uma maneira de adoptar a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) nas organizações. Em última análise, melhorar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal dos colaboradores é uma ajuda para tornar as empresas mais competitivas e produtivas, ao mesmo tempo que melhora os índices de atracção e retenção de talento, entre outros aspectos.

O que é ainda necessário para que as empresas optem definitivamente por uma mudança de paradigma a este nível, adoptando uma metodologia sociolaboral baseada na flexibilidade, no respeito e no compromisso mútuos?
Actualmente, as empresas ainda resistem à mudança. E, na realidade existe um paradigma relacionado com a necessidade de incrementar a presença e os resultados, que continua a resistir a transformações. Este modelo não está alinhado com as novas formas de trabalho e os novos paradigmas da gestão, nos quais predomina os bons resultados e as melhores decisões.

A crise está a colocar desafios difíceis às famílias, que estão fragilizadas perante questões como a instabilidade do mercado de trabalho e o desemprego ou a escassez crescente de recursos (devido à diminuição do poder de compra e ao aumento de impostos. A actual conjuntura coloca também desafios acrescidos às empresas que, num contexto de sobrevivência, se tornam mais exigentes com os seus colaboradores. De que modo pode uma política familiarmente responsável constituir uma ferramenta para combater a inevitável deterioração dos níveis de motivação dos colaboradores, por um lado, e melhorar os níveis de produtividade das empresas, por outro?
O contexto económico e social de crise mundial em que vivemos há já uns anos criou um cenário muito difícil, no que concerne as estratégias de conciliação entre a vida profissional e a vida familiar. Estamos a viver num estado de sobrevivência constante.

“Portugal já começou a apostar na importância estratégica da conciliação e das empresas familiarmente responsáveis” .
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Esta ferramenta da conciliação aproxima os gestores dos seus colaboradores e se, ao conseguirmos sensibilizar o seu lado mais humano, reunirmos uma maior transparência entre todos, será possível ultrapassarmos a crise o quanto antes. Acresce que, nesta matéria, muitos especialistas estão de acordo na convicção de que conseguiremos, de facto, sair deste contexto de crise procurando novas oportunidades, com inovação e com ideias criativas. Ora, todas estas características residem, precisamente, nas pessoas.

Neste contexto, qual é a importância de as empresas adoptarem medidas de conciliação direccionadas tanto para evitar o despedimento como para compensar a perda de massa salarial e de benefícios associados ao rendimento no trabalho, como a flexibilização dos horários de trabalho, o teletrabalho, o apoio à mobilidade ou a valorização da proximidade geográfica do colaborador?
A conciliação integra uma visão da sociedade e dos negócios muito mais flexível, que requer uma adaptação da situação com maiores quotas de flexibilidade. De resto, começa a notar-se que muitas empresas, sobretudo as que apostam nas pessoas, em detrimento de optarem por despedir os seus empregados, preferem flexibilizar o trabalho, como medida anticrise.

Inclusivamente, com o teletrabalho, uma das medidas de topo graças às novas tecnologias e à nova era em que nos movimentamos, podemos avançar muito nesta visão, já que esta é uma medida que melhora a eficiência, gera poupanças ao nível de custos e mobilidade e contribui igualmente para poupanças na economia familiar dos colaboradores.

Pela sua experiência nesta área, como encara o mercado de trabalho a nível ibérico, no que diz respeito ao reconhecimento dos níveis de produtividade associados às políticas familiarmente responsáveis? Em Portugal, as empresas ainda olham com receio e desconfiança para medidas como a flexibilização, por exemplo?
Muitas pessoas podem pensar que entre Espanha e Portugal ainda se verificam diferenças assinaláveis em matéria de conciliação e igualdade. Contudo, a realidade é completamente distinta. Portugal e Espanha caracterizam-se por um mercado laboral ancorado na assiduidade no local de trabalho, em horários completos, e não flexíveis, e com empresas pouco produtivas. Não obstante, quer a sociedade espanhola quer a portuguesa começam a exigir uma mudança nesta realidade.

Até à data, existem mais empresas certificadas como “empresa familiarmente responsável” em Espanha, mas tal verifica-se simplesmente pelo facto de a Iniciativa efr ter nascido naquele país. Mas Portugal já começou a apostar na importância da conciliação e das efr, e começa a ser uma referência. Ambos os países já se posicionaram estrategicamente neste que é um tema onde ainda há um longo caminho a percorrer.