Do alto dos seus 82 anos, e “caminhando” há mais de setenta, Rui Nabeiro afirma que “todos os dias vai lançando sementes à terra”. Numa conversa informal com o VER, o líder do Grupo Nabeiro, o “senhor Rui” de Campo Maior e o homem agraciado com o grau de Comendador, fala, com a simplicidade que o caracteriza, da sua vida, dos desafios que o continuam a mover, do seu legado e da visão optimista que tem para o futuro “Um líder é um espaço sem limites. É um livro em que as páginas não terminam, pois existe sempre mais uma para se acrescentar”. Do alto dos seus 82 anos, e “caminhando” há mais de setenta, Rui Nabeiro afirma que “todos os dias vai lançando sementes à terra”. Numa conversa informal com o VER, o líder do Grupo Nabeiro, o “senhor Rui” de Campo Maior e o homem agraciado com o grau de Comendador, fala, com a simplicidade que o caracteriza, da sua vida, dos desafios que o continuam a mover, do seu legado e da visão optimista que tem para o futuro. “Porque o mundo não vai acabar”, há que dar asas à imaginação, tirar partido das ideias e fazer diferente. Uma lição de vida, de liderança, de humanidade e de como o mundo precisa de bons exemplos. Nascido nos anos 30, época em que “a família era o pilar por excelência” e “as formações académicas eram curtas”, foi com “10 anos e picos”, e terminada a 4ª classe, que Rui Nabeiro deu início à sua caminhada. Por influência de um tio querido – “um desobediente com formação” – que saiu da casa dos pais para dar início a um pequeno negócio de torrefacção, Rui Nabeiro seguiu-lhe os passos, devido também a “circunstâncias que obrigaram a que eu puxasse mais por mim”. O pai, motorista de um médico lavrador, “vivia mais tempo em casa do patrão do que na nossa”, pois fazia esse sacrifício durante o ano inteiro “para dar uma vida razoável aos filhos”. A mãe, “extraordinária e que sem saber uma letra, era uma pessoa muito inteligente”, sempre afirmou “o meu Rui faz, o meu Rui resolve”. E o mesmo lhe dizia o tio, de quem herdou também “o lado comercial e industrial”, na pequena torrefacção por ele criada, “por vivermos neste recanto, mas ligados a Espanha”, responsável pelo “negócio mais evoluído” e cuja voz, em conjunto com a dos pais, continua a ouvir. Desde tenra idade que Rui Nabeiro era conhecido pela sua disponibilidade: “eu servia toda a gente que me pedisse um favor, pessoas da minha rua, pessoas do meu bairro, que me conheciam e diziam ‘aquele moço faz, aquele moço ajuda, aquele moço está disponível’”. E logo aí “comecei a ser diferente”, pensando igualmente como “poderia fazer uma vida diferente, uma vida melhor”. Questionado sobre as qualidades superiores que o diferenciam enquanto gestor, mas e em particular, enquanto ser humano, Rui Nabeiro é taxativo: “os líderes não aparecem, nascem”, são fruto de “uma formação natural” que depois “valorizamos e aperfeiçoamos”. Se os jovens de hoje são diferentes dos de ontem? Não, não existe diferença, a não ser uma melhor preparação [académica]. “A força do homem é a força do querer”, afirma, acrescentando também que a “liderança é dada por Deus e pela Providência”. E mesmos nestes tempos modernos, acrescenta, há jovens, crianças, que “demonstram saber que há um caminho”. Na sua própria casa, são os netos, “cuja atitude denota que são capazes”, que confirmam que liderar é “cultivar um bem-estar, que é sempre repartido, dividido e calculado no tempo”. “Se houver bons exemplos, há seguidores” Liderar em conjunto com os outros é, na verdade, uma das características do líder do Grupo Nabeiro, atestada pelos seus colaboradores. “O Senhor Rui está sempre connosco e trabalha no meio de todos nós”, ouvimos, por várias vezes no Centro Educativo Alice Nabeiro, o lugar escolhido para esta conversa. “Conseguir que as nossas pessoas comunguem da mesma ideia, do mesmo ideal, da mesma força e da mesma atitude – isso é que é a liderança do homem”, diz. “Estar junto de todos, sejam meus colaboradores ou não foi, sem dúvida, uma das razões para o meu sucesso”, assegura, explicando igualmente que o facto de nunca ter deslocalizado o seu negócio e não ter deixado que ninguém tomasse conta “desta posição em Campo Maior”, se deveu ao facto de, para além de estar comprometido consigo mesmo, estava igualmente comprometido com a população de Campo Maior. E é desta forma que o Comendador imagina que irá ser recordado: como um servidor de causas. A este compromisso com os outros, Rui Nabeiro acrescenta uma ideia repetida várias vezes na conversa e a propósito de épocas diferentes: “o que um bom líder deve fazer é ser um bom exemplo, apesar de isso não se fazer num dia”. Afirmando que há muita gente que diz que imitar é feio, Rui Nabeiro afirma que “quando imitamos o bom, quando acreditamos que estamos a imitar o bem”, imitar não fica mal a ninguém. Foi o que fez com o seu tio e é o que vê nos netos: “o desejo de imitar o avô”. A este respeito, Rui Nabeiro acrescenta, contudo, que “tudo na vida tem de levar o seu tempo”, pois não se devem dar passos apressadamente. “Facilitar sim, mas com tempo suficiente para não arriscar ou para a outra pessoa não sentir que é demasiado fácil”, diz. “Temos de dar cultura e educação. Quando queremos dividir, temos de saber dividir, saber que é útil para quem vai receber a benesse, mas também útil para quem a oferece”, explica. “E só com as partes integradas a funcionar dessa maneira, é que realmente se pode fazer um caminho como aquele que eu providenciei, que é o facto de caminharmos hoje, mas também ontem e amanhã”. E porque a vida tem sempre de continuar, “é por isso que eu penso que os meus netos saem ao avô, pois eu sou o exemplo diário que eles vêem”. E é também por isso que o “liderar pelo exemplo” é tão importante para o Comendador, na medida em que o país, e o mundo, estão carentes desses bons exemplos. “E somos nós, os mais velhos, que transportamos essa mensagem, essa missiva”, assegura. “E se houver bons exemplos, há seguidores”. Responsabilidade social: “ou se é ou não se é” “Na minha empresa, os nossos meios estão aplicados: estão realmente ao serviço de todos e todos estão ao serviço dos nossos meios e, portanto, não tenho dúvida nenhuma que poderíamos contribuir todos para melhor, pois não é despedindo pessoas que se pode melhorar nada”. Numa altura em que a responsabilidade social corporativa já passou a fase da “moda” e começa a ser realmente integrada na estratégia de um número significativo de empresas, é impossível não se considerar Rui Nabeiro como uma espécie de pioneiro nesta cruzada de nome pomposo. No seu caso, e servindo legitimamente todos os seus stakeholders, sem excepção, a responsabilidade social é intrínseca, misturando-se com a história pessoal e profissional do Comendador. E daí não termos resistido a perguntar se quando olha para os seus congéneres, empresários e empresas, se também lhes reconhece essa legitimidade. Para o homem e líder, e no que respeita a esta temática, “ou se é ou não se é”. Ou seja, se apenas se faz porque é uma oportunidade [de melhorar a reputação ou porque o escrutínio actual a isso obriga], “acaba por não ter a profundidade que deveria ter”, considera Rui Nabeiro. Pelo contrário, “se a fizemos porque é o nosso estilo ou forma de estar na vida, acabamos por ser verdadeiras armas sociais”, garante. Por outro lado, e voltando ao tema do bom exemplo, o líder do Grupo Nabeiro acredita que a responsabilidade social das empresas pode ser alvo de contágio. “Neste momento, já há muitos ‘seguidores’”, afirma, sublinhando mais uma vez que “quem não realiza coisas hoje, amanhã poderá ser tarde demais”. Principalmente numa altura de crise social e económica que todos estamos a sentir, “temos de ser responsáveis na leitura que fazemos dos problemas dos outros, e fazer o bem, dividi-lo, dividir os nossos meios, mesmo que não sejam materiais, mas apenas humanos”. Dando o exemplo dos colaboradores que trabalham no Centro Educativo Alice Nabeiro (v. Caixa), o comendador faz ainda saber que “as pessoas que trabalham nesta casa têm o seu salário, é certo, mas têm, acima de tudo, um carinho enorme por todas as crianças e jovens que frequentam esta instituição”. E, acrescenta, “isso é tão bom e tão necessário, especialmente nesta crise, a tal esperança que tem de ser dada às pessoas, sendo que quem tem meios deve colocá-los à disposição de uma comunidade que está muito carente”. A verdade é que, para Rui Nabeiro, o “homem-líder” que é preocupado, preocupa-se com o que é bom e com o que é mau”. “Se não temos riquezas próprias, temos de as imaginar” Para quem “caminhou e faz caminhar”, nada é impossível. Negando negativismos que não se coadunam com a sua maneira ser, e depois de já ter enfrentado várias épocas difíceis – o seu primeiro trabalho, convém não esquecer, foi guiar um carrinho de mão – não é esta crise que o assusta, apesar de o incomodar. “O mundo não acabou nem vai acabar e não vamos ficar a viver pior do que aquilo que já vivemos”, insiste. E, no âmbito de um projecto ambicioso que já levou Campo Maior a candidatar-se a “Vila Solidária da Europa” (sendo o Coração Delta um dos parceiros de peso) e cujos principais vectores de incidência a serem trabalhados serão o aproveitamento escolar, a comunidade cigana, a insegurança, em conjunto com o emprego e o empreendedorismo, Rui Nabeiro não tem dúvidas que muitos desempregados podem e devem apostar na criação do seu posto de trabalho. Sobretudo os jovens, que “com muita imaginação e muito mais preparados face a outras épocas – o imigrante dos anos 60 não é, em nada, igual aos jovens que vão hoje para grandes cidades – e que possivelmente trarão muitos conhecimentos que permitirão fazer aquilo que eu estou a dizer: inventar o seu próprio trabalho”, afiança, firmando não ter dúvida alguma que tal irá acontecer. “As crises podem-nos abrir caminho para vencer. E eu estou convencido que muitos jovens, que têm formação e muitas ideias, vão conseguir”. Todavia, para que vencer seja o resultado da crise, “é preciso tirar-se partido dessas ideias e, no fundo, acreditar que são capazes”. Insistindo na ideia de que o mundo não vai acabar e que todos temos capacidade para fazer diferente e criar emprego, Rui Nabeiro termina a conversa que teve com o VER de uma forma optimista e que apela à esperança: “Não somos inferiores aos outros em nada. Mas o nosso país tem carências em tudo. E se não temos riquezas próprias, temos de as imaginar”, exorta. Porque é ai que reside o nosso grande poder: “imaginarmos aquilo que os outros, tranquilamente, têm”. |
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