Crise: o que estão as empresas efr a fazer pelos seus colaboradores

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O vírus chegou de um dia para o outro e apanhou de surpresa o país. Mas isso não impediu que muitas empresas tenham estabelecido, em tempo recorde, planos de contingência para lidar com os mais prementes problemas que, sem dar tréguas, passaram a fazer parte da sua nova realidade. Num fórum online organizado pela ACEGE e dirigido a um conjunto de empresas certificadas em efr (empresas familiarmente responsáveis), partilharam-se medidas e boas práticas sob um mote comum: “juntos seremos mais fortes”. E é reconfortante saber que, em tempo de distância social, a proximidade com os colaboradores se assume como uma das principais prioridades
POR HELENA OLIVEIRA

A ACEGE, no âmbito da sua parceria com a Fundación Másfamilia, promove activamente a comunidade efr – empresas familiarmente responsáveis – que, em Portugal, envolve várias empresas de referência, de diferentes sectores e dimensão, as quais se comprometem a fomentar o equilíbrio entre a realidade profissional e a vida familiar. Um tema que se torna ainda mais necessário nos tempos que correm: com o mundo a viver uma crise sem precedentes.

Num fórum realizado em Lisboa, a ACEGE reuniu a comunidade efr com o objectivo de estimular a discussão e a partilha de medidas que foram accionadas para fazer face à gigantesca ameaça colocada pela pandemia global. Na reunião foi identificado um amplo conjunto de medidas que mostram que as empresas efr estão muito atentas aos seus colaboradores.

Porque o trabalho não pode parar

Como seria de esperar, a generalidade destas organizações e empresas teve como missão premente garantir a manutenção das suas operações, ao mesmo tempo que, e em simultâneo, assegurava a segurança dos seus trabalhadores. Praticamente de um dia para o outro, e dada a rapidez da propagação do coronavírus e da necessidade de, através do isolamento, contribuirmos para salvaguardar a nossa saúde e a dos outros, as empresas viram-se obrigadas a implementar planos de contingência que mitigassem o impacto brutal que esta nova realidade trouxe ao seu normal funcionamento.

Assim, o teletrabalho (e sempre que possível) surgiu como a primeira e principal medida a ser implementada pelo conjunto das organizações presentes no fórum, em tempo verdadeiramente recorde e com a particularidade de, em muitos casos, o mesmo estar a ser feito pela primeira vez neste regime remoto, sem a possibilidade de ser previamente experimentado e avaliado. Computadores e aplicações específicas que permitem a execução “total” do trabalho a partir de casa foram de imediato disponibilizados, com muitas empresas a apostarem no programa Teams, da Microsoft, para a gestão das suas equipas, e também no já famoso Zoom, o qual está a ser eleito por muitas organizações como a aplicação por excelência para as tão necessárias reuniões virtuais. No fórum em causa, e de uma forma unânime, os presentes reportaram excelentes resultados nesta experiência alargada a inúmeros trabalhadores, e para os quais certamente contribuíram as acções de formação que, rapidamente tiveram lugar, tendo em conta as especificidades desta nova forma de trabalho: como manter as rotinas num novo ambiente de trabalho, como utilizar as ferramentas colaborativas ou noções de como se realiza uma videoconferência foram alguns dos temas discutidos nas sessões de formação em causa.

O reforço da comunicação, em conjunto com um acompanhamento próximo e regular de dúvidas e ansiedades, foram ainda algumas das mais imediatas medidas apresentadas para fazer face a uma das principais preocupações demonstradas pelas organizações: como manter, à distância, a proximidade necessária com os seus colaboradores.

Claro que nos casos em que as actividades laborais não podem ser feitas a partir de casa, e porque existe sempre um conjunto de colaboradores que se encontram “no terreno”, a prioridade foi dada às denominadas “medidas de contenção”. Estas incluíram não só o acesso a material de higienização e o reforço dos procedimentos de segurança (disponibilização de álcool-gel, produtos de limpeza para os carros, partilha de informação em termos de boas práticas e sensibilização), como a manutenção das distâncias devidas entre colaboradores, constituindo a rotatividade das equipas uma das medidas igualmente adoptadas de forma a minorar riscos de contágio e a possibilitar o cumprimento dos planos de distanciamento social. A medição da temperatura corporal duas vezes por dia foi nalguns casos mencionada pelas várias organizações que não podem ter a totalidade da sua força de trabalho em regime de teletrabalho. Para evitar a deslocação dos trabalhadores via transportes públicos, algumas resolveram ainda pagar as despesas de estacionamento encorajando os trabalhadores a trazerem os seus próprios carros e, noutros casos, disponibilizando viaturas da empresa.

Conferir confiança e tranquilidade aos trabalhadores é essencial

A par das acções tomadas para – e num curtíssimo espaço de tempo – manter as empresas a funcionar, foi igualmente prioritário implementar de imediato medidas específicas com a finalidade de tranquilizar o mais possível os trabalhadores face à sua ansiedade presente e ao seu futuro próximo. Assim, a maioria das organizações informou prontamente os seus colaboradores de que os seus postos de trabalho seriam mantidos, não havendo despedimentos – mesmo para os contratados a prazo e os precários – e na medida em que todos serão necessários no futuro. A manutenção da remuneração dos colaboradores, mesmo daqueles que, por motivos vários, poderão estar em casa sem trabalhar, foi igualmente assegurada por todas as organizações que estiveram presentes no fórum. Algumas mantiveram os prémios previamente estabelecidos, tendo uma delas, inclusivamente, procedido a um aumento das remunerações dos colaboradores como “agradecimento” ao trabalho que está a ser desenvolvido nesta fase complexa. Em alguns casos, houve de imediato dispensa de trabalhadores de risco, com o pagamento de salários a 100%.

Para tranquilizarem o mais possível os colaboradores, todas as empresas apostaram no reforço da sua comunicação interna, tendo em conta a necessidade de uma informação fluida de forma a contemplar decisões para a redução da incerteza e angústia inevitavelmente sentidas neste período complexo, mas sempre com base na transparência, na verdade e na clareza. Esta informação é veiculada, em vário casos, pelos próprios CEOs e conselhos de administração assumindo temas variados que incluem, e como não poderia deixar de ser, informação regular sobre a própria Covid-19, mas também respostas a perguntas frequentes sobre a gestão operacional em ambiente de trabalho remoto.

Também para manter a proximidade com e entre os trabalhadores, têm sido criados, na generalidade das empresas, grupos de WhatsApp ou de Facebook que permitem a partilha de sugestões para a realização do teletrabalho e para a conciliação entre vida pessoal e profissional, agora “juntas” no mesmo espaço. Todas as empresas estão igualmente a encorajar a manutenção dos laços sociais da sua força laboral insistindo na celebração de aniversários e de outras datas relevantes, ainda que de forma virtual, bem como a “marcação” de pequenos-almoços e almoços nos seus respectivos departamentos. Pequenos gestos e desafios como o de “partilhar imagens do meu novo escritório”, o envio, via intranet, de mensagens positivas e de reforço do agradecimento pelo trabalho prestado são também formas encontradas por várias empresas para mitigar os efeitos do isolamento dos seus empregados.

Na área da formação, as organizações têm apostado na partilha de vídeos sobre, por exemplo, medidas que facilitem a vida aos teletrabalhadores, sobre temas de liderança e coaching e até sobre limpeza e desinfecção dos espaços de trabalho. Para os colaboradores mais velhos e com mais dificuldades na gestão das novas tecnologias, como por exemplo as redes sociais, as empresas tiveram o especial cuidado de fornecerem formação específica. Os mais idosos e mais vulneráveis são igualmente brindados por telefonemas diários com o objectivo de sentirem mais acompanhados.

saúde física e psicológica também não foi esquecida. São várias as empresas que estão a disponibilizar linhas de apoio para despiste de sintomatologia, 24 horas por dia e através de telefone, email ou sms, a facilitar a marcação de consultas e os pedidos de receitas e, para os grupos de maior risco, o acesso a consultas via telemedicina.

Foram igualmente estabelecidas parcerias com psicólogos e assistentes sociais, para que estes possam dar o apoio possível na área da saúde mental, emocional e psicológica.

Porque estar em casa acarreta desafios novos, outras organizações apostam também em contribuir para melhorar o bem-estar dos seus colaboradores: desde aulas de ginástica e técnicas de mindfulness em vídeo, em conjunto com a divulgação de cursos online ou livros gratuitos, sem esquecer visitas virtuais a museus ou dicas de nutrição, tudo serve para contribuir para uma manutenção da sanidade física e psicológica dentro de quatro paredes.

De sublinhar igualmente que a maioria das empresas presentes neste fórum não descurou os seus apoios à comunidade, nomeadamente: a promoção de novas formas de voluntariado, adaptando-o às particulares necessidades a que esta pandemia obriga e respeitando todas as normas de segurança que se impõem; a compra de equipamentos variados; e o apoio às IPSS, e em particular aos hospitais, através da doação dos tão necessários e deficitários ventiladores, essenciais para preservar a vida humana, no actual estado de crise ao nível da saúde pública.

Receios e desafios para tempos vindouros

Apesar de toda a imprevisibilidade e clima de incerteza extrema que caracteriza a crise que estamos a viver, as empresas têm algumas certezas no que respeita aos tempos (ainda mais) difíceis que se avizinham. Temem, naturalmente, que com o agravamento da crise aumentem consideravelmente as dificuldades para preservar os postos de trabalho e, consequentemente, o impacto económico da crise nos trabalhadores e respectivas famílias. Preocupam-se significativamente – e caso o período de isolamento se mantenha por um período superior ao esperado – com a gestão emocional das suas equipas. E questionam-se, face à imprevisibilidade do fim deste confinamento, com a transmissão contínua de confiança e tranquilidade às suas forças de trabalho.

O aproveitamento de algumas empresas no decretar de falências fraudulentas para depois reiniciarem actividade sem passivo e com outra denominação consta igualmente das preocupações presentes.

Em termos de desafios para a era pós-Covid-19, uma das questões a acompanhar prende-se com o aproveitamento e manutenção de toda a dinâmica de teletrabalho e flexibilidade laboral que está a ser experimentada com bons resultados e, é claro, com o que vai acontecer quando se voltar a um “novo normal” pois, acreditam, nada será como antes. “Dar esperança” é, contudo, o sentimento que prevalece como prioritário nos planos empresariais.

E um novo fórum está já previsto para acontecer proximamente.

Nota: O presente fórum contou com a presença das seguintes empresas e organizações:

ACEGE

AGEAS (Seguros)

BRISA (Serviços)

CESCE (Financeira – seg. protecção crédito)

DPM Consultores

EDP (Serviços)

FIDELIDADE ASSISTANCE (Seguros)

GRACE (ONG)

INFORMA DB (Serviços)

MASFAMILIA (Fundação)

MORAIS LEITÃO (Soc. Advogados)

SAVILLS (Investimento imobiliário)

SRS (Soc. Advogados Rebelo de Sousa)

XZ Consultores