Se começou muito bem, terminou ainda melhor. Este parece ser o balanço unânime feito pelos mais de 460 líderes cristãos presentes no VII Congresso da ACEGE, o qual marcou igualmente a celebração dos setenta anos da Associação. Com casa cheia, a cerimónia de abertura contou com a presença de Isabel Capeloa Gil, na qualidade de reitora da UCP e anfitriã do evento, prosseguiu com as palavras sempre inspiradoras de João Pedro Tavares, recentemente reconduzido para o seu segundo mandato como presidente da ACEGE e teve a bênção de D. José Ornelas que a ela se referiu como «o exemplo de como nos temos de pôr ao serviço da comunidade e do bem comum». Como se esperava, Marcelo Rebelo de Sousa marcou igualmente presença nesta cerimónia proferindo um discurso elogioso centrado nos valores que, independentemente dos tempos, a ACEGE tem fiel e persistentemente mantido. O que não era expectável foi a honra concedida pelo Presidente da República à Associação Cristã de Empresários e Gestores que recebeu, das suas mãos, as Insígnias de Membro Honorário da Ordem do Mérito. Dois dias intensos que fecharam com o presidente da UNIAPAC, Bruno Bobone e com a visível satisfação e orgulho de toda a direcção, bem como de todos os acompanham o trabalho da ACEGE centrado na “cultura do cuidado e de compromisso, que alia empresas, trabalhadores e sociedade civil em torno dos princípios da ecologia integral da Economia de Francisco”
«A ACEGE e a UCP movem-se por um propósito comum: a partilha de soluções para uma economia para as pessoas e não apesar das pessoas»
ISABEL CAPELOA GIL, Reitora da UCP
«Equidade, preocupação com o bem comum e esforço por respeitar as pessoas. É este o espírito que está na génese da ACEGE – e também da Universidade Católica Portuguesa (UCP)».
Foi com este mote que, no dia 6 de Maio, Isabel Capeloa Gil, reitora da UCP iniciou a sua intervenção por vídeo no Congresso Comemorativo dos 70 Anos da ACEGE. Nas suas palavras, a ACEGE e a UCP são movidas por um propósito comum: «a partilha de soluções para uma economia para as pessoas e não apesar das pessoas».
Confiante de que o crescimento económico é a melhor fonte para melhorar as condições de vida, a reitora da UCP afirma-se segura de que a ACEGE não ignorará o seu compromisso com as pessoas e com o seu bem-estar, lutando pela equidade nestes tempos de crise. Afirma que esta situação ultrapassa o défice orçamental, da dívida pública e dos incentivos (cada vez mais necessários) à actividade económica: «a pandemia e a guerra colocaram-nos perante o desafio de renovarmos os valores do mundo contemporâneo», acrescenta. A exaustão dos recursos naturais, a radicalização do conflito e o extremar das posições políticas exige de todos os católicos um esforço adicional para garantir soluções que promovam o bem comum.
Inspiradas na Doutrina Social da Igreja, a ACEGE e a UCP estarão, na visão de Capeloa Gil, na linha da frente de projectos que aprofundarão a Economia de Francisco, num esforço pelo consumo responsável de todos e pelo bem comum. Tomando a vida de São Francisco de Assis como exemplo, os cristãos deverão ser capazes de pensar numa ecologia integral ao serviço da casa comum, mas também dos mais pobres. Como referido pelo Papa Francisco numa carta aos mais jovens em Maio de 2019, serão eles o motor de uma «economia diferente, que faz viver e não mata, que inclui e não exclui, que humaniza e não desumaniza».
Será também o que se pede no ensino da Economia nas universidades católicas pelo mundo fora – e que será visível no encontro mundial de estudantes e académicos de Economia que está a ser preparado pela UCP. Certa dos resultados profícuos dos dois dias de congresso da ACEGE, Isabel Capeloa Gil deixou o desafio para que os empresários cristãos não se escondessem por detrás do vulto da crise e se inspirassem no exemplo da ACEGE ao longo dos últimos 70 anos. Contas feitas, basta isso para concretizar soluções que levem a um Portugal mais desenvolvido e mais voltado para as pessoas.
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«Amor sem verdade é contrafacção e verdade sem amor é perda de relação»
JOÃO PEDRO TAVARES, Presidente da ACEGE
Amor e verdade. Escolhessem-se duas palavras e seriam estas a melhor caracterizar os 70 anos da ACEGE. Para João Pedro Tavares, presidente da associação desde 2015 e reconduzido para o segundo mandato, o propósito da ACEGE é evidente: percorrer um caminho de verdade assente no exemplo de Cristo. Em 2022, no meio de uma guerra na Europa e depois de dois asfixiantes anos de pandemia, o grande desafio dos líderes católicos ultrapassa o quotidiano das suas organizações – terão de ser mensageiros da paz.
O caminho da paz não pode ser vão e deve libertar-se de paradoxos políticos e bélicos Se o congresso de dois dias foi ponte entre o presente e o futuro da associação, não ignorou o passado nem o caminho traçado pela ACEGE em prol de uma sociedade mais justa, solidária e centrada nas pessoas. Para além das conquistas, dos sorrisos e dos aplausos, a história da associação é, na visão do seu presidente, marcada pelo amor e pelo impacto que as diferentes direcções tentaram deixar numa gestão virada para as pessoas e para os ideais cristãos. Enaltecendo as duas direcções anteriores à sua, de João Alberto Pinto Basto e a de António Pinto Leite, João Pedro Tavares garantiu que a melhor prática de gestão incentivada pela ACEGE é a do amor, tal como preconizada por Jesus, recordando também o modo como António Pinto Leite fez questão de a expandir enquanto presidente da associação inspirado pela temática «Amor como prática de gestão», que marcou o congresso da ACEGE de 2007.
Acrescenta que a caminhada do amor apenas ganha sentido quando acompanhada de outro ingrediente: a verdade. Nas palavras de João Pedro Tavares, «Amor sem verdade é contrafacção e verdade sem amor é perda de relação». Por isso, o que um líder católico deve fazer é assumir com vocação e espírito de serviço a missão que lhe é confiada, dando o seu contributo para a construção de um mundo que transforma as pessoas e as organizações à luz da fé cristã. Quem compõe a ACEGE não é actua para o benefício próprio, muito menos fica refém dos seus medos. Entrega-se antes aos outros, criando valor que será justamente distribuído, sob a égide de uma ética que prima, antes de tudo, pelo bem comum.
Para o presidente da ACEGE, é crucial estimular uma cultura de encontro em que cada pessoa se sinta digna e apta a trabalhar em conjunto. Não há maior corolário: o todo é maior que a soma das partes – e esta tautologia aplica-se também à coexistência e à complementaridade entre os sectores público e privado.
E a complementaridade está, na ACEGE, ligada a um dos seus mais importantes stakeholders: a família. Para João Pedro Tavares, a pandemia fez com que o contexto familiar de cada pessoa deixasse de ser apenas uma célula de encontro, de crescimento, de valores e de realização, evidenciando-se ainda mais como uma célula importante na tomada de decisão de qualquer organização. O teletrabalho trouxe a realidade familiar de cada pessoa para um lugar central no interior das empresas e todos os líderes «que querem curar e não ferir» sabem agora que as empresas humanizadas (onde há um equilíbrio entre vida profissional, pessoal e comunitária) são as que obtêm melhores resultados.
E é esta visão e ímpeto transformadores que o presidente da ACEGE pediu que se levasse para a vida em sociedade, no esforço de reforçar a dignidade de todos e de combater uma sociedade cada vez mais envelhecida. Combater a pobreza, envolver as famílias, melhorar a qualidade de vida de todos apenas é possível através de modelos que transformem e não de dogmas do passado que apenas remedeiam. Para João Pedro Tavares, a chave está em assumir uma cultura do cuidado e de compromisso, que alia empresas, trabalhadores e sociedade civil em torno dos princípios da ecologia integral da Economia de Francisco.
Por isso, garante, a ACEGE continuará a missão dos seus fundadores há 70 anos: acolherá o amor de Cristo em cada empresa, transformando o tecido empresarial de Portugal com coragem, justiça e integridade. O mandato que a nova direcção nacional da ACEGE agora começa é, a seu ver, a oportunidade para aprofundar um «olhar, pensar e agir» recheado de esperança e de interajuda. É o momento de continuar a integrar as minorias e a lutar por uma sociedade que tenha em linha de conta a riqueza intergeracional, na certeza também de que existe um futuro no qual ninguém é forçado a imigrar. Porque há lugar para todos – e todos são precisos para inspirar a ACEGE na missão de trazer Cristo para dentro das empresas. Afinal, é disto que se trata o Amor como Critério de Gestão.
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«A chave está em resgatar as pessoas nas suas quedas e erros, mostrando-lhes que numa organização a misericórdia se tem de juntar à meritocracia»
D. JOSÉ ORNELAS, Presidente Conferência Episcopal Portuguesa
Se há uma pergunta que todos os católicos fazem a si mesmos é: «Como é afinal o projecto de Deus?». Para D. José Ornelas, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa e membro do painel de abertura do VII Congresso Nacional da ACEGE, a resposta é simples: Deus conta connosco para continuarmos o seu projecto. No Génesis diz-se: «Crescei e multiplicai-vos», e a verdade é que não há melhor forma de actualizarmos a Sua criação a cada dia. Assim, sublinha, todos os líderes cristãos são chamados a dedicar-se a uma ecologia integral, que vai desde a sustentabilidade ambiental aos princípios de gestão baseados no Evangelho.
Para D. José Ornelas, a ACEGE é a prova viva de uma integração contínua e constante de valores no tecido empresarial, negando a visão maniqueísta de que os empresários alinham numa economia que mata e subjuga os mais frágeis. É «o exemplo de como nos temos de pôr ao serviço da comunidade e do bem comum», num esforço por ampliarmos, através do trabalho, a presença de Deus no mundo. Aliás, foi também por isso que Deus criou sete dias e não apenas seis: o dia que permite atingir-se a perfeição do número sete é o dia do descanso, imprescindível para todos aqueles que empreendem a obra de Deus.
Para o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, a criação da Humanidade por Deus é quase como o milagre da multiplicação dos pães: Ele tem um projecto para a empresa que criou e que vai multiplicar o seu espírito por um conjunto de líderes que se sentem capazes de continuar o seu sonho. Só que este caminho, tal como o de Jesus, não é feito de evidências nem de direcções fáceis: está recheado de desvios e de momentos de falta de orientação. Nas palavras de D. José Ornelas, «Somos muitos a seguir este Seu projecto e, em momentos críticos, precisamos Dele para não sermos ovelhas sem pastor».
E isto também sucede dentro das nossas empresas. O líder não só é aquele que percebe em nome de quem trabalha, mas também que é capaz de perceber quem ainda não encontrou propósito dentro da sua organização. A fome da multidão tem de ser a fome dos líderes. Para D. José Ornelas, é muito claro que as pessoas que ainda não vestiram a camisola não podem ser mandadas embora ou para ficarem apenas dependentes da sua sorte – têm de encontrar nas lideranças os alimentos que lhes matam a fome.
Aliás, os nossos tempos são propícios a tipos de fome a que já não estávamos habituados: a guerra e a pandemia obrigaram, na perspectiva do sacerdote, a que os gestores e líderes investissem em soluções criativas capazes de transformar e de aligeirar contextos críticos. A chave está em resgatar as pessoas nas suas quedas e erros, mostrando-lhes que «numa organização a misericórdia se tem de juntar à meritocracia».
Já antes da pandemia se faziam notar sinais deste espírito criativo. As start-ups são exemplo da vontade de arriscar que caracteriza todos aqueles que multiplicam o espírito de Jesus Cristo – e que são chamados a aprofundá-lo no seio da Igreja. No acolhimento a refugiados, na preparação do Sínodo de 2023 e na expansão do pensamento e da vida de Cristo, não é possível uma aproximação ao Evangelho unicamente individual. Para D. José Ornelas, é o pão de Deus que está na base de uma vivência cristã – e não há nenhum verbo de acção do «pão» que não se conjugue no plural. E é isso que a ACEGE faz há 70 anos: partilha o pão de Cristo por todas as mesas que alcança.
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«Em todos os momentos de clivagem, a ACEGE manteve-se fiel a si mesma, empenhando-se numa luta personalista em prol da dignidade, do crescimento, do conhecimento e da verdade»
MARCELO REBELO DE SOUSA, Presidente da República
Regressar a casa sabe sempre bem, especialmente quando as circunstâncias são felizes. Foi munido deste espírito que Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, regressou uma vez mais ao campus da Universidade Católica Portuguesa no passado 6 de Maio para participar na sessão de abertura do Congresso Comemorativo dos 70 anos da ACEGE. E se o ânimo que se sentia na sala já era recompensador, Marcelo decidiu ainda celebrar as sete décadas de vida associação entregando-lhe as Insígnias de Membro Honorário da Ordem do Mérito.
Para o Chefe de Estado, a entrada para a Ordem De Mérito é o símbolo de uma «vida cheia» da ACEGE e do seu esforço em ter uma posição de relevo junto do tecido empresarial português.
«A ACEGE é ser cristão: é ter o mesmo espírito base, mas estar atento aos diferentes sinais dos tempos». As palavras são de Marcelo Rebelo de Sousa e a realidade nunca engana: a ACEGE nasceu durante a fase mais dura da Guerra Fria na década de 1950, entrou no caminho do pontificado de Pio XII, sobreviveu ao 25 de Abril e aos tumultos de um mundo refém do terrorismo e das desigualdades, assistiu à chegada de Paulo VI e à divisão dentro da Igreja, viveu o fim do mundo bipolar e a euforia de uma Alemanha reunificada, incorporou afincadamente o exemplo de João Paulo II, reorganizou-se com a criação do Euro e empenhou-se em apresentar soluções ao difícil equilíbrio entre a evolução tecnológica e a sustentabilidade ambiental.
Em todos estes momentos, a ACEGE manteve-se fiel a si mesma, empenhando-se numa luta em prol da dignidade, do crescimento, do conhecimento e da verdade. Para o Presidente da República, a ACEGE é exemplo de uma acção consistente contra a ignorância e o desemprego, que lhe permitiu construir uma identidade coesa para e com os outros. Assumidamente orgulhoso da mesma enquanto Presidente da República, cidadão e católico, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou ainda a independência da associação face ao poder político e às inúmeras tentativas de a dissuadirem dos seus valores e da sua obra social nos momentos de clivagem. Aliás, é este o maior feito que a ACEGE deixa ao longo dos últimos 70 anos: viver cada dia e cada momento de reforma como uma oportunidade para procurar a dignidade para si e para os outros. Tal como Jesus faria.
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ENCERRAMENTO
«A pandemia de covid-19 revelou ser possível colocar os indivíduos à frente da economia, abrindo um caminho para a transformação»
BRUNO BOBONE, Presidente da UNIAPAC
Bruno Bobone, antigo vice-presidente da ACEGE, foi convidado a encerrar o Congresso Nacional da associação. A sua intervenção inicia-se com uma mensagem do Papa Francisco a todos os empresários: «Não tenham medo. […] Todos sofremos uma crise com a covid. E de uma crise não se sai só: ou saímos todos ou não sai ninguém». A mensagem do Santo Padre anima a sala. Para o Papa Francisco, ser-se empresário é ter uma vocação nobre, porque se consegue juntar vários recursos para gerar riqueza.
O presidente da UNIAPAC revela o seu enorme orgulho pelo caminho que da ACEGE ao longo das suas sete décadas de história. Enquanto membro da união internacional cristã, toma o trajecto da associação portuguesa como um exemplo para os outros países pela sustentabilidade e pela qualidade dos projectos que a ACEGE desenvolve.
A pandemia de covid-19 revelou ser possível colocar os indivíduos à frente da economia, abrindo um caminho para a transformação. Por isso, Bruno Bobone afirma que este é o momento indicado para trazer a doutrina social da igreja para dentro da economia, alterando-a de forma significativa.
Termina a sua apresentação com o convite para o próximo congresso da UNIAPAC, que se realiza em Roma nos dias 21 e 22 de Outubro.
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No final da apresentação de Bruno Bobone, João Pedro Tavares subiu novamente ao palco para agradecer a todos a participação no congresso e convidou a nova direcção a apresentar-se aos presentes. A ACEGE dá a cara neste caminho de pessoas para pessoas. É bom vermos quem somos.
Texto: Alexandre Abrantes Neves
Fotos: © Arlindo Homem
Foto Marcelo Rebelo de Sousa: © Miguel Figueiredo Lopes/Presidência da República
Artigo do VER.