A Instrução de Deus

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ANTÓNIO PINTO LEITE é presidente da ACEGE

Os líderes empresariais cristãos devem procurar, incessantemente, orientar a sua vocação empresarial para o bem comum. Se o amor é o nosso critério de gestão, temos de procurar, diligentemente, o sofrimento social, encontrarmo-nos com ele e sintonizar as nossas empresas e os nossos recursos com a resposta a esse sofrimento
POR ANTÓNIO PINTO LEITE

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ANTÓNIO PINTO LEITE é presidente
da ACEGE

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As duas grandes chagas da nossa sociedade são a pobreza e o desemprego. A ACEGE quis, com esta conferência, parar, inclinar-se, ajoelhar-se, conhecer, interpelar-se com o drama dos desempregados. Como o Bom Samaritano, parámos na berma da estrada, junto do desempregado, para o ajudar. Esta conferência tinha este propósito: compreender em profundidade as causas do desemprego, as consequências, as respostas possíveis, as tendências, as raízes, os números, as pessoas e as melhores práticas que, por esse mundo fora, são usadas para responder a este flagelo.

Só valeria a pena reunir aqueles que definitivamente acrescentariam valor ao que todos já sabemos. E também reunir aqueles que, tendo chegado ao topo das organizações, incluindo multinacionais de referência mundial, pensam, escrevem no PowerPoint e falam com Deus presente. Reflexões há muitas, reflexões cristãs não há assim tantas e as reflexões cristãs são as que transformam as pessoas e multiplicam as energias para o bem comum.

O primeiro passo foi procurar ter um estudo sobre o desemprego. Era impossível ter um estudo em dois meses, mas ele caiu do céu, literalmente: a McKinsey incluiu Portugal no estudo sobre o desemprego jovem na Europa que estava a realizar e o estudo ficou pronto a tempo de ser divulgado internacionalmente nas vésperas da conferência.

Era, igualmente, necessário ter quem ponderasse sobre a resposta empresarial para a geração mais experiente que caiu no desemprego e para a geração mais jovem que não consegue aceder ao emprego. Ao mesmo tempo, era essencial aprofundar a análise do contexto demográfico em que nos enquadramos, à luz do desafio do (des)emprego, assim como era indispensável a visão, já não sobre as empresas, mas sobre a economia no seu conjunto, entender quais as tendências e quais as  fragilidades estruturais que persistem e podem ameaçar a resposta a este sofrimento. Finalmente, uma reflexão sobre o emprego e o trabalho à luz da Fé, da nossa espiritualidade, da doutrina social da Igreja, da alegria evangélica do Papa Francisco, reflexão essa que pedimos ao Senhor D. Manuel Clemente. Como disse na conferência, os oradores prepararam as suas intervenções com rigor e com amor.

As conclusões foram muitas e da maior importância. O mais importante foi perceber, com surpresa, que o crescimento económico é indispensável, mas não chega. Há razões profundas, estruturais, de natureza diversa e complexa que determinam o desemprego. Esta complexidade, em vez de desmotivar, pelo contrário, abre perspectivas de podermos ser úteis e anima os líderes empresariais a desempenhar um papel relevante na solução do problema.

A verdade é que o desemprego não é uma prioridade nas políticas de responsabilidade social das empresas portuguesas. É a pobreza, são os deficientes, é o ambiente, são os idosos, são os sem-abrigo, mas não o desemprego, o desempregado. A grande motivação que retiro desta conferência é colocar o desemprego, o desempregado, como prioridade das políticas de responsabilidade social das empresas portuguesas. Há hoje milhares de empresas com políticas de responsabilidade social avançadas, com meios, com foco, com experiência, com gente. Se este enorme activo social se focar no desemprego, inúmeras iniciativas irão nascer e ajudarão, enormemente, a mitigar este sofrimento. E mais ajudarão se muitas dessas empresas souberem actuar em parceria.

A conferência foi de valor tão excepcional que percebemos como há tantas iniciativas que as empresas podem tomar, para além da disponibilidade para empregar jovens à procura do primeiro emprego ou desempregados de longa duração.

Se o Bom Samaritano conseguir colocar o desempregado no centro da responsabilidade social das empresas, a conferência cumpriu o seu objectivo. Creio que terá sido esta a instrução de Deus.