São temas variados e absolutamente em linha com as principais preocupações e desafios da sociedade actual. Seja o anunciado “fim do capitalismo”, a análise de empresas que, no passado, tentaram unir o lucro ao impacto social positivo, com lições importantes para a nova geração de gestores que estão a tentar fazer o mesmo, ou os fantasmas que pairam sobre trabalhadores e empresas face à automação dos postos de trabalho no futuro que já começou, muito há que ler e digerir. Entre outros temas, estes são os 10 livros sugeridos para levar na mala ou para tirar da prateleira no regresso ao trabalho
POR HELENA OLIVEIRA
The Technology Trap: Capital, Labor, and Power in the Age of Automation
Carl Benedikt Frey
O historiador económico Carl Frey, autor do talvez mais citado relatório sobre o futuro do trabalho e no qual previu que 47% dos empregos nos Estados Unidos estão em perigo de automação, oferece um olhar sobre as falhas nos avanços tecnológicos do passado, desde a era pré-industrial, passando pelas sucessivas revoluções industriais, até à produção em massa e aos progressos céleres e ainda pouco explorados da inteligência artificial. Tendo como enfoque o impacto das mudanças tecnológicas no mundo do trabalho e na economia em geral, Frey expõe os seus argumentos e profundos conhecimentos sobre o que a era da automação significa para o futuro do trabalho e dos trabalhadores.
Recordando que a Revolução Industrial trouxe, inevitavelmente, enormes benefícios para a sociedade, a seu ver, os sistemas de inteligência artificial têm igualmente o potencial para o fazer de novo. Mas Frey insiste que tudo dependerá, e muito, da forma como o curto prazo será gerido. No século XIX, foram muitos os trabalhadores que se expressaram violentamente contra as máquinas que lhes roubaram os empregos e, no século XXI, e apesar de a violência não ser uma realidade, o descontentamento face a fenómenos que já ocorreram no passado – como o desaparecimento de muitos empregos de médios rendimentos, a estagnação dos salários, o desemprego e a desigualdade económica – não deixará de ocorrer também.
A proposta do historiador económico e director do programa de Tecnologia e Emprego na Oxford Martin School é demonstrar que, no centro de mais uma revolução tecnológica, as lições do passado poderão ajudar a enfrentar o presente de uma forma mais eficaz.
James O’Toole
“A maioria das empresas que tenta fazer bem fazendo o bem não duram muito”, escreve James O’Toole, o qual tem vindo a estudar, há quase cinco décadas, a performance social de 50 empresas dos Estados Unidos e do Reino Unido, as quais podem ser consideradas como “iluminadas” – ou seja, empresas com práticas organizacionais admiráveis, mas muito pouco comuns, que conseguem beneficiar não só os seus accionistas, mas também a sociedade no geral. Os líderes dessas mesmas empresas tentaram abordar os problemas mais complexos com que nos defrontamos actualmente, seja o desemprego, a pobreza, as condições de trabalho precárias, os bens de baixa qualidade ou a degradação ambiental, perseguindo o lucro em simultâneo. E, de forma significativa, tentaram lidar com os problemas sociais através de práticas de negócio específicas e não pela filantropia. E estes actos éticos e responsáveis traduziram-se não em meros casos isolados, sendo, ao invés, absolutamente integrantes na forma como conduziram os seus negócios e incorporados tanto nos produtos como nos serviços que ofereciam. Como escreve o autor, e a um nível muito pouco usual, estes líderes realmente praticaram, de forma consistente, os valores que abraçaram para as suas vidas e carreiras. Todavia, estas práticas virtuosas raramente sobreviveram a uma ou, no máximo, a duas sucessões na liderança destas mesmas empresas. Ou seja, e num determinado momento do tempo – geralmente depois de um CEO socialmente responsável e pioneiro ter ido para a reforma, ter morrido, ter sido forçado a sair da empresa ou esta ter sido adquirida – os seus sucessores acabaram por abandonar exactamente as mesmas práticas que tinham tornado, outrora, a empresa financeiramente bem-sucedida e publicamente admirada.
O especialista em liderança ética narra, assim – e numa altura em que assistimos a uma pressão cada vez maior para que as empresas sejam “boas” – as histórias esquecidas de homens e mulheres que adoptaram práticas de negócio visionárias concebidas para servir as necessidades dos seus empregados, clientes, comunidades e ambiente natural, sublinhando que todos eles quiseram demonstrar que os executivos não são obrigados a fazer trade-offs entre lucro e virtude.
Assim, e como estamos perante uma nova geração de líderes que está a tentar, igualmente, abordar problemas sociais através de uma liderança organizacional “iluminada”, O’Toole explora, no seu livro, a talvez mais importante questão colocada nos tempos que correm: são as práticas corporativas virtuosas compatíveis com o capitalismo dos accionistas?
The Future of Capitalism: Facing the New Anxieties
Paul Collier
No seu mais recente livro, o reputado economista de Oxford, Paul Collier, identifica três grandes divisões que pautam a sociedade moderna: cidades versus pequenos centros urbanos, cidadãos com educação superior versus os que não a têm e países ricos versus estados frágeis. E, com base nestas três problemáticas, tenta divisar uma solução para uma versão mais justa de capitalismo. “O capitalismo não está a funcionar” é o seu argumento de partida, com o autor a considerar que o problema não só é político e económico mas, em igual dimensão, ético. Retratando a Europa e os Estados Unidos da actualidade, o professor de economia e de políticas públicas demonstra que estas rupturas geográficas, educacionais e morais contribuíram para a erosão de um sentimento de destino comum.
Em “The Future of Capitalism”, o autor tenta restabelecer os fundamentos éticos perdidos da família, da empresa e do Estado. E, ao contrário dos socialistas, Collier considera as desigualdades e a polarização política não como falhas inerentes ao capitalismo, mas como evidências de “falhas nocivas” das políticas vigentes que precisam de ser corrigidas. E, para consertar estas falhas, oferece variadas propostas as quais descreve como pragmáticas, incluindo uma revisão das políticas fiscais, um apoio generoso por parte do Estado para as famílias com maiores dificuldades e a representação pública nos conselhos de administração das empresas.
“The Prosperity Paradox: How Innovation Can Lift Nations Out of Poverty”
Clayton Christensen, Efosa Ojomo, and Karen Dillon
Apesar de as ajudas internacionais terem retirado muitas pessoas da pobreza ou de as terem poupado a condições de fome ou de doenças, existe ainda um número chocante de pessoas pobres em todo o mundo. De acordo com os autores, “750 milhões de pessoas vivem ainda em pobreza extrema, sobrevivendo com menos de 1,90 dólares por dia”. A tese central do livro do famoso professor de Harvard, e que cunhou o conceito de inovação disruptiva, e dos seus co-autores, alerta para o facto de que apesar de muitos milhares de milhões de dólares terem sido canalizados para os países pobres, a verdade é que os resultados ficaram muito aquém do esperado. As pessoas continuam pobres e a única forma para criar um crescimento duradouro é, de acordo com os autores, apostar em soluções de longo prazo.
Como sabemos, a pobreza global é um dos problemas mais complexos e perturbadores do mundo. Durante décadas, assumiu-se que estratégias inteligentes e bem-intencionadas iriam, eventualmente, ser capazes de alterar a trajectória económica dos países de baixos rendimentos. Desde a educação aos cuidados de saúde, passando pelas infra-estruturas ou pelas tentativas de erradicação da corrupção, muitas das soluções basearam-se em tentativa e erro. E, essencialmente, o plano é sempre o de identificar áreas que precisam de apoio, inundá-las de recursos e ter esperança que as coisas mudem com o tempo.
Mas Christensen sugere uma forma melhor: o tipo certo de inovação que não só faz as empresas crescer, mas também os países. O livro identifica os limites dos modelos comuns de desenvolvimento, os quais tendem a ser esforços do topo para as bases e oferece uma nova estrutura para o crescimento económico baseada no empreendedorismo e na criação da inovação nos mercados. Os autores usam exemplos do próprio desenvolvimento da América, incluindo a Ford, a Kodak ou a Singer, e demonstram como é que modelos similares funcionaram em outras regiões como o Japão, a Coreia do Sul, a Nigéria, o Ruanda, a Índia ou o México. As ideias explanadas no livro ajudarão as empresas que estão desesperadas por um verdadeiro crescimento a longo prazo a seguir o caminho do progresso sustentável em áreas que falharam anteriormente, sendo que, mais do que um livro de negócios, The Prosperity Paradox é também uma chamada à acção para qualquer pessoa que pretenda fazer do mundo um local mais próspero e melhor.
Brave New Work: Are You Ready to Reinvent Your Organization?
Aaron Dignan
O autor é reconhecido, em várias partes do mundo, por ajudar as equipas a reinventar os seus “sistemas operativos” – ou seja, os princípios e práticas fundamentais que moldam as culturas organizacionais – e com grande sucesso. A sua principal função é ajudar as organizações a perceber que não são máquinas previsíveis e controláveis, mas sim compostas por sistemas humanos complexos cheios de potencial à espera de ser libertado. E o argumento central do seu livro é “ensinar” a reinventar a forma como se trabalha, abandonando os “mandatos do topo para as bases” e apostando numa cultura de autonomia, confiança e transparência.
Demonstrando que a esmagadora maioria dos trabalhadores aponta para as mesmas frustrações – desde a ausência de confiança, aos impasses na tomada de decisão, passando por funções e equipas que se habituaram a trabalhar em silos isolados, às reuniões improdutivas e aos emails intermináveis, sem esquecer o pensamento de curto prazo e os orçamentos sempre apertados – Aaron Dignan oferece o exemplo de várias empresas que, pelo menos, estão a tentar mudar este “estado normal das coisas”, bem como a sua valiosa experiência no reset necessário das culturas organizacionais.
No Bullsh*t Leadership: Why the World Needs More Everyday Leaders and Why That Leader is You
Chris Hirst
“O melhor líder é aquele que consegue retirar o melhor de uma equipa”, afirma o autor de No Bullsh*t Leadership, num guia prático sobre o que fazem os líderes e como devem fazê-lo. “Para mim, e apesar de quem não acredita genuinamente no seu poder, liderar é a arte de criar uma cultura, a característica que define qualquer equipa e que distingue as boas das excelentes”, acrescenta ainda. Para Hirst, a liderança não é um clube especial, apenas aberto às elites, mas sim “aquilo que fazemos todos os dias”.
Este livro, que muito deve às experiências nem sempre positivas do seu autor, é escrito em tom bem-humorado e está repleto de abordagens simples mas incisivas, que desmistificam um tópico muitas vezes considerado como sobrevalorizado, mas que vai directo ao centro da liderança moderna. O livro é dedicado para pequenas empresas ou iniciativas comunitárias, para escolas ou equipas desportivas ou para grandes organizações, com o leitor a ficar com uma ideia clara sobre a cultura e a sua extrema importância, sobre como tomar decisões de forma confiante ou como criar equipas que ultrapassarão as da concorrência. A ideia é também a que todos podemos ser líderes, desde que nos resolvamos a sê-lo.
Late Bloomers: The Power of Patience in a World Obsessed with Early Achievement
Rich Karlgaard
Com uma tese que apela aos “mais velhos” que continuam a sonhar, o autor aponta para as vantagens de se conseguir “florescer” em alturas mais “crescidas” da vida, numa época em que o sistema vigente parece forçar toda a gente a conformar-se com a ideia que se não se consegue atingir o sucesso – seja lá o que isso represente – na casa dos vinte ou trinta anos, é porque se fracassou.
Ao vivermos numa sociedade em que pais e filhos vivem obcecados com o atingir de objectivos o mais cedo possível, seja nos rankings escolares, seja nas universidades em que se entra ou ainda no tipo de emprego que se arranja ou na empresa em que se consegue entrar ou criar, criou-se a ideia generalizada que quem não chega lá depressa, é porque falhou. E a verdade é que os que não demonstram um sucesso meteórico acabam por ser desvalorizados na sociedade actual, mesmo que para a esmagadora maioria das pessoas “entrar pela porta grande” não seja comum em “tenra” idade e porque é preciso descobrir os nossos maiores talentos, dons e paixões ao longo de um determinado percurso.
O autor, que teve uma carreira académica medíocre em Stanford e que, depois de se licenciar, trabalhou a lavar pratos e como guarda-nocturno, sabe bem do que escreve, pois só encontrou a sua motivação interna bem mais tarde do que é agora “aceitável”, tendo esta o levado a criar uma revista de tecnologia em Silicon Valley e a ser o editor da reputada revista Forbes.
O livro socorre-se também dos avanços na ciência e Rich Karlgaard assegura que existe uma explicação científica para todos aqueles que “florescem” mais tarde na vida. Como escreve, a função executiva dos nossos cérebros não “amadurece” até por volta dos 25 anos e, para alguns, mais tarde ainda, com as nossas capacidades cerebrais a apresentarem picos em idades diferentes. E, na verdade, passamos por múltiplos períodos de florescimento ao longo das nossas vidas, sendo que os mais “tardios” gozam de pontos fortes que são negados aos mais jovens. Exactamente por levarem mais tempo a descobrir o seu caminho na vida, ganham outro tipo de características cruciais como a curiosidade, uma maior clareza de pensamento, compaixão, resiliência e discernimento. Com base em anos de pesquisa, na sua própria experiência, em entrevistas com neurocientistas, psicólogos e inúmeras pessoas em fases diferentes das suas carreiras, o livro Late Bloomers revela como e quando é possível atingir o nosso potencial, bem como os motivos que – a seu ver errados e até penalizadores –levam a sociedade a esta obsessão pelo sucesso o mais cedo possível.
Win or Die: Leadership lessons from Game of Thrones
Bruce Craven
A narrativa na talvez mais famosa série de todo o sempre deriva, em parte, de mitos (dragões, bruxaria e mortos reanimados são elementos comuns) e, por outro lado, da própria história, baseando-se e ampliando muitas crónicas passadas de dilemas e reviravoltas em termos de liderança. Ou seja, o que parece uma decisão razoável num primeiro momento, poderá resultar em confiar na pessoa errada ou ser linchado publicamente.
Apesar de no nosso mundo não enfrentarmos “execuções literais”, a verdade é que muitas vezes tomamos decisões envoltas em tensões dolorosas similares às das personagens da série e com resultados imprevisíveis. Podemos assistir ao fracasso dos nossos empreendimentos ou ao vacilar daqueles que nos lideram, correndo o risco de colocarmos em causa as nossas famílias, comunidades e até a própria economia. E um dos ingredientes de maior sucesso da série prende-se exactamente com decisões estratégicas complexas num mundo volátil e sanguinário que, de acordo com o autor, em muito se assemelha aos terrores vividos pelos líderes no mundo real, o qual pode ser brutal mais vezes do que as que gostaríamos.
Bruce Craven analisa as jornadas dos melhores e piores líderes de The Game of Thrones, de uma forma que permite aos líderes da vida real construírem a sua própria narrativa, analisando as suas terríveis decisões e erros fatais, em conjunto com as suas maiores vitórias e sucessos, focando-se no que vão aprendendo pelo caminho. O resultado é um best-seller que “ensina” a enfrentar os conflitos e a reforçar a resiliência, desenvolver inteligência contextual e emocional, aprimorar a visão, entre muitas outras histórias que envolvem os “dragões” que temos de enfrentar no mundo real.
“The Age of Living Machines: How Biology Will Build the Next Technology Revolution”
Susan Hockfield
Com as alterações climáticas, os eventos climatéricos extremos e a sobrepopulação a ameaçar o nosso modo de vida, a neurocientista Susan Hockfield assegura que a biologia será, de forma crescente, uma disciplina absolutamente crucial. E antevê um futuro em que nanopartículas poderão detectar o cancro, onde membros biónicos serão controlados pela mente ou colheitas “computacionalmente modificadas” poderão salvar o planeta. A reconhecida ex-presidente do MIT define o seu livro como “a história da revolução tecnológica”, revolução esta que terá, inevitavelmente de acontecer, quando as estimativas apontam para que existam 9,5 mil milhões de pessoas no planeta em 2050.
“The Moment of Lift: How Empowering Women Changes the World”
Melinda Gates
É o primeiro livro de Melinda Gates e não é de surpreender que o mesmo constitua um apelo a conferir maior poder às mulheres, numa altura em que a igualdade de género se assume como uma das mais importantes questões sociais da actualidade. Enquanto responsável pela Bill & Melinda Gates Foundation, a qual já contribuiu com mais de 45 mil milhões de dólares para suprir necessidades de ordem variada em várias partes do globo, a também mulher de um dos homens mais ricos do mundo argumenta que a única forma de assegurar o progresso é oferecer às mulheres a possibilidade de serem tratadas de forma igualitária.