“Valores e Desafios para um Novo Paradigma na Gestão“

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ACEGE - Núcleo do Porto David Zamith
No nosso último almoço-debate antes das férias de verão, acolhemos o Professor Álvaro Nascimento, actual Director da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica do Porto. Em ambiente onde a presença de gestores e empresários mais jovens, que felizmente nos acompanham desde a primeira hora, foi mais uma “ lufada de ar fresco ” aquilo que nos propiciou o orador. 

Numa vivencia de um paradigma com grandes alterações ao nível de novas competências (sociais, ambientais, inovações tecnológicas, ou dinâmicas na empresa e no emprego), começou por enquadrar o seu pensamento de hoje numa reflexão de Bento XVI, “Caritas in Veritate” ou a “Caridade na Verdade”.

A empresa, as entidades, as pessoas, com quem nos relacionamos hoje em dia, nada tem a ver com a forma tradicional da gestão, mais numa base do deve e haver e direccionada ao lucro, mas menos preocupada com a sociedade, ou seja, como se na sociedade não existissem problemas. O investir, olhando para dentro e tendo como importante aspectos como a motivação, as competências, os salários, ou a produtividade, tendo em foco a emergente da responsabilidade social, com o seu despoletar ao nível do ambiente mas cada vez mais com o peso da sociedade dentro da própria empresa.

Como marcas de desafios do empenho futuro, referenciou por exemplo o próprio Enquadramento, num mosaico cultural de diversidade crescente ou o envelhecimento na Europa; na Assimetria Social, com a evolução dos mais pobres extremada das sociedades “com ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, em Portugal o rendimento médio dos 20% mais ricos é 6 x superior ao rendimento dos 20% + pobres, em contraste com  a média UE de 5 x, num hemisfério de empobrecimento acelerado!

Será que neste ambiente o mundo dos negócios irá florescer, ou constituirá uma ameaça à própria empresa?

Novos Valores, com os padrões da sociedade num consenso diferente onde o materialismo e o imediatismo reinam; a Inovação Tecnológica a surpreender-nos a cada instante, como a revolução dos iPod´s, aos downloads musicais; a Globalização com toda a carga da deslocalização empresarial; ao aumento da Intensidade Concorrencial e correspondente aumento do risco, de novas ameaças até ao extremo da hiper-regulação.

Mas os grandes desafios para a gestão do SEC XXI têm como Pano de Fundo”, e no seu próprio interesse, a Responsabilidade e Sustentabilidade; o Governo das Sociedades, como paradigma complicado de financiamento, com investidores a confiar em gestores; num Mundo Global que não é igual, onde não existe uniformidade e que se apresenta em movimentação de ziguezagues; ou na Renovação da Cadeia de Valor, com alterações de fundo que nos obrigam a repensar os nossos próprios negócios; ou a Flexibilidade de Investimento, em constante de incertezas e de ciclos curtos, à problemática da Mobilidade do Mercado de Trabalho, recursos humanos em movimento e formação nas empresas ao longo da vida, preparados para trabalhar fora da base; até à Incerteza do Extremistão, como que um paradigma do zero ao infinito oriundo do famoso livro O Cisne Negro, de Nassim NicholasTaleb!

Um permanente repensar nas empresas, como desafio para gestão moderna.

Ou ter um “governo”, na lógica da governance, a correr um sério risco de forças populistas, com um Estado demasiado intervencionista, verdadeiras ameaças à livre iniciativa privada.  

Vivemos num mundo de mercado concorrencial com Falta de Valores.

De Sustentabilidade, cuja origem foi política, climatérica e de preocupação sobre o futuro do nosso planeta; daí o Ambiental, como forma, que não só económica, mas igualmente um exemplo de acautelar o nosso futuro, na procura de alternativas energéticas, com o Estado a regular e a chamar a atenção para o equilíbrio. De Responsabilidade Social, como apoio verdadeiro e activo à sociedade, e não somente o “retirar dessa sociedade”, criando o fosso actual na onda de insatisfações, de tensões sociais, que vão ter impacto na própria produtividade pois levam ao imobilismo. Devemos criar condições benéficas a fim de “devolvermos à sociedade”. E ainda sobre o Extremistão, “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é burro ou não tem arte”, é tempo dos Valores e de um report da Verdade, criando um sentimento de confiança nas sociedades onde o Estado não seja “apresentado” como “a solução para a crise”, e com isso trazendo o risco de asfixiarem a própria iniciativa privada. O tema da Globalização fomentado como um mercado aberto, deslocalizando-se para onde a produção era mais barata, mas hoje não será mais possível esquecer que deslocalizar não é fácil! Os exemplos dos grandes falhanços demonstram claramente a necessidade de adaptação às culturas locais, deslocalizar e adaptar, ou o sucesso a ser afectado. A Renovação da Cadeia de Valor obriga as empresas a olhar para dentro, a por em causa o seu negócio (o que sei fazer – o que não sei fazer) num balanço certamente difícil de elaborar, ou a avaliação continuada das funções tradicionais mas reintegradas na cadeia de valor (soluções inovadoras e vantagens de custos). Ou nada fazer e aguardar, como o exemplo do flop actual da imprensa escrita em relação à plataforma de informação gratuita, e neste âmbito a necessidade da credibilização da informação! À problemática do Investimento, num mundo de investimentos baixos e de rentabilidades enormes, só para os que acertem no cavalo certo! Num mundo do Nada, ou do Tudo! Do Aforrador e da Confiança! Numa reflexão contínua o Prof. Álvaro Nascimento fez a apologia aos gestores modernos, com competências técnicas, espírito multicultural, apoiados nos bens de cooperação e perto das Universidades, sendo que para a Universidade Católica do Porto é importante o convite à presença dos empresários, ajudando a Universidade na sua caminhada de miscigenação multicultural (Portugal, Brasil, Angola) para o aprofundamento das redes de cooperação.

Uma reflexão brilhante, competente, positiva, alegre, em busca do caminho para a renovação das empresas na cadeia de valor, olhando para as oportunidades, mas igualmente uma chamada de atenção aos empresários e gestores, como que um alerta, para as dificuldades e a volatilidade que nos circunda. Encantando os presentes com a sua análise lúcida e esclarecedora, este almoço debate da ACEGE, foi uma verdadeira “ lufada de ar fresco ” e de preparação para o post crisis.

O nosso obrigado ao Prof. Álvaro Nascimento e até breve.

Fundação Dr. Cupertino de Miranda – Porto, 09 de Julho de 2009

ACEGE – Núcleo do Porto

David Zamith