Voluntariado empresarial – caracterização e vantagens para os envolvidos

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O voluntariado empresarial consiste na disponibilização gratuita, por iniciativa do empregador ou com o apoio deste, do tempo e do saber dos seus colaboradores. As acções de voluntariado empresarial podem ser feitas durante o horário normal de trabalho ou, se feitas fora deste período, devem garantir aos participantes a possibilidade de compensação do tempo despendido.

Um estudo encomendado à “MORI” pela Comissão Europeia no ano 2000 dava conta do baixo nível de envolvimento dos portugueses em actividades regulares de voluntariado (3%, face à média de 16% nos 10 países analisados).

Em 2005, assisti em Londres à entrega dos prémios de excelência da “Business in the Community” onde tive oportunidade de ficar a conhecer os melhores projectos de responsabilidade social daquele ano. Deparei-me com realidades que seriam estranhas no nosso país, tais como o facto de alguns dos prémios terem sido atribuídos pelos projectos de integração social que desenvolvem junto das comunidades locais a grandes clubes, conhecidos internacionalmente pelas suas equipas de futebol.

Há, pois, já me esquecia: um grande evento nacional, com o “Royal Albert Hall” completamente cheio, aparentemente sem vozes dissonantes, divisões ou “bota abaixo”, com o patrocínio e a presença do Príncipe Carlos, que – para minha surpresa – até disse umas piadas engraçadas a propósito e uma actuação do “Cirque du Soleil” a encerrar.

Em Portugal, a realidade é diferente e ainda são raras as empresas que têm programas de voluntariado. Muito mais do que noutros países, a vertente externa da responsabilidade social das empresas nacionais é feita através de donativos em dinheiro, quase sempre canalizados para as mesmas instituições, as que têm mais conhecimentos, mais fácil acesso e maior capacidade de influência sobre quem decide. Em alguns casos, trata-se mesmo de patrocínios comerciais disfarçados, concedidos para melhorar a imagem da organização ou do seu líder e para obter benefícios fiscais.

Dados de 2002 do Observatório Europeu das PMEs indicam que, em 80% dos casos, os apoios concedidos pelas nossas empresas são feitos casuisticamente, sem obedecer a uma estratégia, sem ligação com o negócio da empresa e sem contribuírem para que se estabeleçam laços duradouros e benéficos entre as partes.

Ora isto não faz sentido, pois a maioria dos apoios concedidos deviam ter carácter de continuidade, ser destinados a instituições cuidadosamente seleccionadas de acordo com critérios de racionalidade, tais como ligação ao negócio da empresa, transparência, profissionalismo, capacidade de execução, resultados obtidos, proximidade geográfica ou outro.

Admitindo que a principal função de uma empresa não é distribuir riqueza mas sim criá-la, será que se justifica o seu envolvimento em acções de voluntariado?

Do ponto de vista da empresa, as principais vantagens destas acções são:

·          Humanização do trabalho 

·          Experiência de trabalho em equipa

·          Aumento da coesão interna

·          Reforço do sentimento de orgulho de pertença a uma organização socialmente responsável

·          Desenvolvimento de novas competências sociais e operacionais dos colaboradores

·          Conhecimento de nichos de mercado e identificação de novas oportunidades comerciais

Do lado das organizações que beneficiam do trabalho dos voluntários, vários aspectos devem ser acautelados:

·          Não basta dizer que se precisa de voluntários: convém combinar antecipadamente o que eles irão fazer, onde, quando, quantos são precisos e durante quanto tempo;

·          O perfil dos voluntários deve ser previamente definido e acordado;

·          Convém aproveitar os voluntários para as tarefas em que eles podem trazer valor acrescentado e não para aquelas que ninguém quer fazer;

·          Quem recebe voluntários deve nomear alguém para os acolher e integrar;

·          Convém que seja dada uma formação mínima aos voluntários;

·          Devem ser dadas aos voluntários condições de trabalho condignas e ser salvaguardados os riscos inerentes à actividade que vão desempenhar;

·          Os voluntários não deverão ter que pagar despesas do seu bolso. 

Normalmente os voluntários de empresas não têm disponibilidade para tarefas que exijam uma presença constante na instituição apoiada, portanto não lhes devem ser pedidas actividades dessa natureza. No entanto, uma equipa de voluntários pode, no seu conjunto, comprometer-se a dar um apoio que exija regularidade.

Qual o tipo de acções que faz mais sentido? Eis alguns exemplos que conheço:

·          A Microsoft apoia programas de combate à info-exclusão envolvendo colaboradores e parceiros de negócio;

·          O Barclays Bank desenvolva programas de literacia financeira para jovens em risco;

·          A AstraZeneca Farmacêutica se associe à Fundação Portuguesa de Cardiologia numa campanha de sensibilização para os perigos da hipertensão.

Felizmente, existem excelentes iniciativas por esse país fora, de grandes e pequenas empresas, umas mais conhecidas e outras totalmente anónimas. A sua pode ser a próxima.

Gonçalo Rebelo Pinto é sócio – fundador da RSO Consultores, que tem como missão fomentar a sustentabilidade das organizações e o envolvimento das partes interessadas.

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