As ambiguidades da ética empresarial

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e nos contextos empresariais, académicos e sociais, a ética nas empresas ainda é encarada com alguma desconfiança por muitos gestores e executivos. A desmistificação de cinco ambiguidades que caracterizam a ética nos negócios poderá ajudar a combater algumas dúvidas que anda persistem

Surgindo como disciplina independente nos finais dos anos 70 nos Estados Unidos, na década de 80 e no mesmo país, mais de 300 universidades e escolas de negócios ofereciam cursos aos seus estudantes sobre esta temática.

Em 1987, 75 por cento das 300 maiores empresas norte-americanas possuíam já os seus códigos internos de regras de conduta. A IBM elegia a honestidade e a transparência como “obrigações” da sua actividade e distribuía, a cada um dos seus colaboradores, um código de ética. Por seu turno, a Motorola organizava ciclos de formação nos quais se analisavam e debatiam os grandes princípios e directrizes da gestão ética.

Multiplicam-se as associações de ética nos negócios, os centros de estudos académicos nas universidades e a ética passa a ser incluída como tema nas políticas editoriais da imprensa.

Na actualidade, e depois dos sempre citados escândalos da Enron e da Worldcom nos Estados Unidos, ou da Parlamat, por exemplo, na Europa, a inclusão da ética nas estratégias de longo prazo das empresas, nos currículos universitários e como tema central de seminários e congressos em todo o mundo é uma realidade a que nenhuma organização poderá estar alheia.

A que se deve um desenvolvimento tão expressivo? A desmistificação de cinco ambiguidades que caracterizam a ética nos negócios poderá ajudar a responder a esta questão.

  1. Não pretende alterar a estrutura e a organização da empresa. O problema é que, ao contrário do que muitos executivos ainda pensam, raramente se trata de modificar o organograma da empresa. Ao invés, o seu principal objectivo parece reduzir-se a “melhorar” os corações e as consciências, a educar as vontades e a seguir caminhos onde a transparência e a integridade sejam constantes e aplicadas continuamente
  2. Parece basear-se numa ética de êxito. O essencial de uma empresa é o sucesso e a moral contribui para esse sucesso ou êxito. Os valores da empresa celebram a união em detrimento da diversidade, a coesão social ou o harmonizar de interesses face à oposição e ao conflito. A ética é um bom negócio.
  3. Legitima a auto-regulação individual perante o medo da regulação legal externa. Depois dos inúmeros escândalos financeiros dos últimos anos, dos excessos especulativos, das OPAS, das fusões e aquisições, acentuou-se a imagem imoral das empresas. Subjacente à noção de ética organizacional, está a ideologia da auto-regulação liberal. Se as empresas não corrigem por si mesmas as práticas desmedidas do mercado, será o Estado quem se encarregará de tal.
  4. Revela uma inquietude face ao futuro pleno de instabilidade e de ameaças. A lógica da prioridade da ganância a curto prazo é suicida e leva a privilegiar a especulação sobre o investimento e a redistribuição dos benefícios sobre o crescimento. A rentabilidade imediata e as pressões dos resultados trimestrais são desastrosas a longo prazo pois limitam o investimento, reduzem os gastos com o desenvolvimento e debilitam a competitividade a longo prazo. E é por isso que a ética organizacional se preocupa com a gestão longo prazo. Procura um individualismo moderado e prudente que possa assegurar que os investimentos de hoje conduzam a maiores benefícios amanhã.
  5. Age de forma reactiva perante os escândalos empresariais e financeiros, mas está preocupada com o controlo e com as operações de cosmética e não por uma interiorização adequada e eficaz dos valores
Adaptado de “100 perguntas sobre a ética na empresa”, de David  Álvares Rivas e Javier de la Torre Díaz