Ética ao serviço da competitividade

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Mentiria se dissesse que esperava uma tão grande receptividade e uma tão pronta adesão ao Código de Ética dos Empresários e Gestores que em boa hora a ACEGE promoveu junto da comunidade empresarial portuguesa.

De facto, centenas de empresários e gestores assumiram já, de forma totalmente voluntária, o compromisso público de respeitar os princípios orientadores enunciados no Código, abrindo assim a reconfortante perspectiva de as nossas empresas verem melhorada a qualidade do seu quotidiano, com reflexos positivos evidentes no seu relacionamento com a comunidade envolvente.

Como coordenador do trabalho que conduziu à elaboração deste Código, sinto-me desde já amplamente recompensado pelo movimento de adesão espontânea que o projecto mereceu, na certeza de que os principais interessados e beneficiados serão os empresários portugueses, cuja imagem é tantas vezes apresentada de forma injustamente distorcida, nomeadamente através de uma generalização de aspectos negativos que a realidade não confirma.

Mas, afinal, o que é este Código de Ética e qual a sua importância no contexto actual do mundo dos negócios?

Em termos muito simples, direi que o Código é um conjunto formador de princípios que deve estimular cada empresário e cada organização a criar o seu próprio código de ética, aquele que melhor se adapte às suas especificidades, na certeza de que a ética empresarial significa confrontar, permanentemente, a procura de uma maior rentabilidade com a defesa intransigente do Homem.

Estamos pois perante um conjunto de normas de conduta que têm o Homem e a Empresa como principais pilares, tentando orientar a resposta dos decisores perante as várias situações de conflitos de interesses que o quotidiano empresarial coloca e que implicam opções complicadas nos mais diversos planos, incluindo o moral e o ético.

O Código surgiu, assim, do desenvolvimento de um movimento transnacional com crescente pujança que visa aprofundar a ética empresarial como ética aplicada, procurando encontrar resposta para um novo conjunto de questões que a economia global tem vindo a colocar, de forma premente, às sociedades modernas.

Este movimento, que começou por um esforço de reflexão em torno do conceito de ética empresarial, tem vindo a consolidar-se e a evoluir no sentido da busca das melhores soluções que possam incrementar a aplicação prática dos valores e dos comportamentos fixados.

Não admira, portanto, que as comunidades empresariais tenham sentido a necessidade de evoluir para fórmulas organizativas mais elaboradas, fixando códigos de comportamentos e métodos de avaliação do seu cumprimento. Foi assim que surgiu a primeira compilação legal sobre governação das empresas, o Sarbanes Oxly Act, em vigor nos Estados Unidos desde 2002.

Desde então multiplicaram-se os documentos e as iniciativas em diferentes latitudes visando conciliar, no dia-a-dia das empresas, poderes e interesses muito diversos, tantas vezes conflituais, sejam do mercado, dos fornecedores, dos colaboradores, das relações com o Estado, etc.

O esforço desenvolvido com vista à resolução inteligente destes conflitos, no quadro de uma assumida consciência da responsabilidade social das empresas, acaba por constituir um dos objectivos principais da ética empresarial e um contributo incontornável, ao contrário daquilo que alguns serão levados a pensar, para um salutar aumento da competitividade das economias e das empresas.

Tendo como base o respeito pela Lei e os princípios éticos universais é possível criar uma consciência de qualidade nas empresas e envolver todas as pessoas, do gestor de topo ao colaborador mais indiferenciado, na busca da realização profissional e pessoal. Em suma, é possível conseguir que as pessoas se envolvam mais no cumprimento de boas práticas e sejam por isso mais felizes.

Em Portugal, esta caminhada está em marcha. Embora se trate de um desafio difícil, até porque se propõe algo que sai da rotina, os sinais detectáveis são positivos e permitem acreditar que será possível levar as pessoas a compreender que a felicidade só é plena se tivermos pessoas felizes à nossa volta. Ou seja, que o empresário só se realizará em pleno se a empresa, para além do lucro, atingir o objectivo de servir a comunidade num quadro de desenvolvimento sustentável e de satisfação dos interesses dos seus colaboradores, incluindo aqueles que extravasam a área meramente profissional.

É este o objectivo central do Código de Ética para Empresários e Gestores da ACEGE, cuja versão final engloba múltiplos contributos recolhidos ao longo da discussão aberta que se prolongou por muitos meses. Cabe agora a cada um de nós assumir as suas responsabilidades, na certeza de que o eventual incumprimento dos compromissos voluntariamente aceites terá pelo menos uma sanção de ordem social. Que é, muitas vezes, a mais penalizante.

 Coordenador do projecto de Código de Ética para Empresários e Gestores