Vento e água criam história diferenciadora

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A EDP está a antecipar as alterações do paradigma no consumo energético, afirmou António Mexia, CEO do Grupo EDP, no decurso do almoço-debate da ACEGE, Associação Cristã de Empresários e Gestores

A aposta no vento e na água estão a permitir à EDP – Energias de Portugal antecipar as alterações do paradigma no consumo energético, disse António Mexia, na ACEGE. Os objectivos são ambiciosos e a companhia está a antecipar o cenário do ano 2013, altura em que as emissões de CO2 serão integralmente pagas.

Enquadrado pela temática da responsabilidade social numa perspectiva inter-geracional, o CEO da eléctrica afirmou que todo o esforço de investimento da companhia visa antecipar as exigências de Bruxelas para dentro de 15 anos e sublinhou que, actualmente, três quartos da capacidade instalada e dois terços da capacidade geracional da companhia não produzem CO2.

Os objectivos não são apenas nacionais, mas de âmbito ibérico. Mexia falou em liderar a vertente das renováveis e, desta forma, “criar uma história diferenciadora que cria valor”. Sublinhou ainda que “a diferenciação é mais importante para as companhias médias do que para as grandes e a EDP entrou (neste mercado) antes das outras”.

O esforço para estabilizar as emissões de CO2 e criar condições para uma transferência de qualidade de vida inter-geracional óptima, esbarra na inexistência de uma solução tecnológica única. Para se atingir nas emissões objectivos mundiais, só com a conjugação de sete grandes medidas em simultâneo, afirma, é que teremos soluções duradouras. Citando um estudo da Universidade de Princeton, António Mexia revelou que para se reduzir algo entre 3 e 4 GT de CO2 será necessário, em termos de aumento da eficiência, duplicar a eficiência de todos os veículos do mundo; ou substituir 1.400 centrais a carvão por gás natural, quando na China em cada cinco dias, nasce uma nova central a carvão. Será ainda necessário capturar o CO2 emitido pelas 250 maiores empresas poluidoras do mundo, enquanto em termos de produção nuclear será necessário triplicar a capacidade mundial neste tipo de produção; e ainda multiplicar por 50 a capacidade mundial de aerogeradores, para além de multiplicar por 50 a produção de biocombustíveis e ainda multiplicar por 700 toda a capacidade mundial de energia solar.

O esforço “é gigante” afirma e, por isso, aumenta a divergência diariamente. Não esquecer, sublinhou o gestor, “que existem 2 mil milhões de pessoas em todo o mundo que perspectivam (a curto prazo) trocar a bicicleta pelo seu automóvel…”

Dumping ambiental
As pressões pelo acesso aos bens de consumo é algo “inexorável”, afirma e, a curto prazo, poderá assistir-se à discussão sobre dumping ambiental, uma discussão, que o gestor afirma ser “difícil devido à inacção e irresponsabilidade inter-geracional”.

Nesta óptica lançou o repto às autarquias com o eventual lançamento da tarifa de acesso à cidade, de forma a criar condições para o financiamento dos transportes públicos. “Isto é algo óbvio”, afirma.

Na EDP a resposta tem sido de “optimismo”, disse. Acrescentou, que tem ocorrido uma alteração de atitudes. “Conjuga-se a tecnologia com a pedagogia”, o que significa para o gestor que perante a “revolução que está a acontecer no sector energético, a EDP está antecipar impactos que serão visíveis na próxima década”.

Assistir-se-á a uma alteração tecnológica com geração (de energia) descentralizada, caso dos painéis nos telhados ou o eólico urbano, em contraposição à convencional central de energia, que tal como o nome indica estaria num espaço central, explicou o gestor. Alerta que por volta de 2013/2014 haverá alteração ao nível da maneira como as empresas se vem comportar”.

Paradigmas
O CEO da EDP frisa que esta “está a antecipar as alterações do paradigma”, quer com as tecnologias maduras, quer com outras recentes e acredita que a mobilidade “estará inexoravelmente associada à electricidade e à questão do hidrogénio em 2030”. Nessa altura, explica, “haverá uma concorrência da energia nuclear e a idade do hidrogénio”. O exemplo típico é o do carro que pode gerar para a rede durante parte do dia ou da noite, ou obter energia da rede durante o dia ou a noite, conforme a tarifa.

O paradigma energético criado pela inovação tecnológica e estimulado pelas crescentes restrições ambientais, apresenta diversos graus de maturidade. Ao nível das novas energias renováveis, a eólica on-shore e a solar centralizada estão num grau de maturidade tecnológico elevado, enquanto a eólica off-shore está num nível médio e as ondas/marés estão dentro de um grau baixo. Para o carvão limpo, o chamado carvão supercrítico está num grau de maturidade tecnológica elevado, enquanto a captura e sequestro de carbono está num nível tecnológica baixo e apenas terá impacto no final da próxima década.

Ao nível da gestão da rede, existe uma maturidade elevada no controlo e optimização da rede, a par da tele-contagem , enquanto na geração distribuída a inovação tecnológica está num nível elevado, quer no fotovoltaico nos edifícios, quer na térmica solar dos edifícios (os projectos apresentam um pay-out a 7/8 anos) e ainda na micro-geração. Diferente é a situação das pilhas de combustível que ainda esta num nível baixo em termos de maturidade tecnológica.

Inter-gerações
A responsabilidade inter-geracional significa “ganhar os corações (…) e criar incentivos para mudar as atitudes”, afirmou António Mexia. O gestor começou a sua intervenção por fazer um comparativo entre as pessoas “de quem gostamos” e o ambiente que criamos. Afirmou: “Tratamos mal quem mais gostamos porque não assumimos a responsabilidade intergeracional. A poluição de hoje é a restrição de amanhã, e isto é um custo inter-geracional”.

A assunção dessa responsabilidade passa, na sua óptica, por três estádios: a providência para a garantia, que significa liberdade de escolha; a poupança e lucro para o conceito de recursos escassos, que significa ter de se ser racional na utilização dos recursos, e ainda o princípio do consumidor/poluidor pagador, que Mexia assemelha ao de “pecador/pagador”, e que revela a noção de custo de oportunidade.

O adiamento de qualquer uma destas decisões tem custos elevados, especifica, e as “elites” – entendidas como a entidade ou as pessoas que tem a função e/ou o poder de mudar alguma coisa — têm responsabilidades. Estas devem “conseguir devolver às sociedades onde vivem, algo ou parte do que retiraram”. Mexia afirmou que as elites “têm dificuldade em devolver parte do que retiram porque têm um problema de fixação de exemplos”, entenda-se como o não cumprimento da responsabilidade social ou a demissão das suas responsabilidades.

Mas, na sociedade civil, a responsabilidade inter-geracional não é apenas das “elites”, mas também das instituições. “O problema está em que hoje, em Portugal, retira-se prazer em denegrir as instituições. “Temos auto-flagelação e não se preserva o valor base das instituições. Os exemplos vão da justiça às empresas e a destruição não é o melhor caminho”, afirma.

Por último, a responsabilidade intergeracional faz-se com a preservação do território e com a requalificação do espaço.

Globalmente, a responsabilidade nas gerações é sinónimo de luta de países, porque “não se pretende atrair capitais, mas atrair as melhores pessoas e as melhores ideias (…) e ganham os holísticos”.

A energia, afirma o CEO da EDP, é um dos três tópicos a nível mundial capaz de provocar a mudança, porque energia tem a ver com acesso à liberdade de escolha, explica o gestor. Elogiou os seus 13 mil colaboradores que “são agentes dessa mudança”.

Frisou o facto da rotação da EDP ter subido 30%, situação que tem a ver “com o seu posicionamento global ao nível comportamental”, e esse factor tem implicações na produtividade das pessoas. “O bottom line está por detrás do equilíbrio”, sustenta, depois de sublinhar que a EDP foi considerada, depois do BCP, a melhor empresa para se trabalhar em Portugal.

Concluiu esta ideia afirmando que “a EDP tem alguma “elite” e tem noção de geração inter-temporal”, que se “traduz na mobilização dos espíritos (…) com o objectivo de gerar lucro”.

Artigo publicado originalmente no jornal OJE