A questão da sustentabilidade não se esgota no presente, mas projecta-se no futuro e está fundada na ética e nos valores, constituindo um desafio para além da tradicional área de actuação das empresas e das indústrias em que actuam, promovendo mudanças comportamentais e educacionais nas empresas e na sociedade em geral
Num estudo mundial recentemente efectuado pelas Nações Unidas para um horizonte de 2050, a Sustentabilidade foi considerada por 93% dos CEO entrevistados (num universo de 1.000) como algo de determinante para o futuro e sucesso das suas empresas. É algo que deixou de ser de periférico, acessório, filantrópico, para se tornar numa relevante e importante componente estrutural na estratégia das empresas. Em particular, num momento em que é importante para as empresas re-ganhar confiança de todos os stakeholders, a sustentabilidade corporativa não é algo de passageiro ou conjuntural, nem tão pouco se restringe a temas regulatórios ou relativos ao impacto ambiental, nem à responsabilidade social ou a resultados económicos. Não se esgota no presente mas projecta-se no futuro e está fundada na ética e nos valores, constituindo um desafio para além da tradicional área de actuação das empresas e das indústrias em que actuam, promovendo mudanças comportamentais e educacionais nas empresas e na sociedade em geral. O que torna a sustentabilidade como algo de premente, importante e urgente? A crescente tomada de consciência de que os recursos são limitados e, alguns cruciais, são escassos. De que as emissões de carbono têm impacto directo em alterações climáticas e na sustentabilidade da vida no planeta. A necessidade de promover a reutilização, redução ou reciclagem, sempre que possível, mas limitando os riscos associados. A oportunidade de melhorar a rentabilidade, a eficácia e a eficiência das operações, sem comprometer o presente, mas tornando o futuro mais sustentável. Num mundo global e cada dia mais competitivo, o desafio é enorme para as empresas portuguesas. Não sendo novo para muitas das principais empresas e instituições, em que a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa já são parte integrante da sua estratégia e estão incorporadas nos seus processos e organização (inclusive, com reconhecimento recente em índices internacionais, como é o caso da EDP), esta não é ainda a realidade da maioria das empresas nacionais. De facto, para a grande maioria do tecido empresarial português, formado em grande parte por PME, o desafio permanece intacto. Deve deixar de ser acessório e passar a ser integrante. Deixar de constituir um custo, um acto caritativo ou moral, para passar a constituir parte de uma visão (individual, empresarial e de país) que contribua para um futuro mais sustentável. Para um país que falha na visão a longo-prazo, o premente “exercício de sustentabilidade” do que seremos – ou queremos ser – em 2020 ou 2050 é algo que se impõe. E não é um desafio regulatório. Nem tão pouco de adopção de métricas ou elaboração de relatórios. É, fundamentalmente, um desafio educacional e cultural. Um desafio civilizacional. Quando se fala de sustentabilidade, é necessário ser “um por todos, todos por um”… Nota: Este artigo de opinião foi originalmente publicado no Jornal OJE de 23 de Setembro de 2010. |
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