Comungo da convicção de que hoje vivemos muito melhor que há 100 ou 200 anos, fruto de uma evolução no sistema económico que trouxe para dentro uma quantidade de gente que estava fora do seu mecanismo e vivia na pobreza. A livre iniciativa económica das pessoas e das empresas e a sã concorrência são princípios que a situação do actual momento não pode pôr em causa. O problema não reside nestes princípios que fomos ao longo da história construindo. A questão está, essa sim, em saber se a par destes existem outros como a responsabilidade, a coerência ética e a capacidade de nos auto regularmos e de termos um Estado a fazer aquilo que deve e deixar á sociedade o que é da sua lavra. Porque a história é e será sempre feita a partir da liberdade humana.
Chegados aqui resta-nos saber se a nossa sociedade e o nosso Estado estão no bom caminho. Infelizmente tenho algumas reservas. Temos uma sociedade civil que continua dependente do Estado, inibida, e agora ainda mais débil pela situação que se vive, excepto aquela que se vai esforçando no apoio social e ás necessidades dos mais carenciados, em grande parte dependente da Igreja Católica; e um Estado a assumir o paternalismo inerente á sua condição histórica, e que a respeito das melhores razões e da salvação nacional vai abalroando, ao seu modo, a livre iniciativa de mercado e a capacidade dos indivíduos e das empresas serem competitivas. Veja-se a este propósito os casos do “Magalhães” e do e-escola, dos painéis solares, da intervenção no BPN e BPP, da célebre iniciativa de autorizar ajustes directos das autarquias para obras até 5 milhões de euros, entre outras.
Não seria mais simples que o Estado pegasse no dinheiro e subsidiasse as famílias na compra desses equipamentos não criando monopólios? Não seria mais simples proceder á sua própria reforma e emagrecer o “monstro”, de forma a libertar esses recursos para a sociedade? Não seria mais simples apostar francamente na subsidiariedade do que na complexa teia da subsídio – dependência, quer na educação, quer na saúde, quer na cultura, quer na própria economia? Estou convicto que em Portugal isso será possível fazer, mas com dois requisitos fundamentais: a sociedade civil tem de se desacomodar e fortalecer; os partidos políticos têm de se reformar e o sistema eleitoral alterar. Não é possível continuar a ouvir as pessoas constantemente a criticar sem se comprometerem; não é possível continuarmos com um Estado subalterno dum sistema de partidos em cartel, condicionando totalmente o exercício das funções governativas e legislativas a seu bel-prazer e ao arbítrio dos seus dirigentes, sem possibilidade de intervenção de outros agentes.
A reforma dos partidos políticos é urgente para que estes continuem a ser os actores principais do tabuleiro da Governação. O mesmo se diga do sistema eleitoral que já deveria ter adoptado, a par do que agora existe, círculos uninominais abrindo-se á livre e sã concorrência de propostas. Não faltam neste momento propostas concretas de reflexão e acção. A este propósito cito apenas o próximo Congresso Nacional da ACEGE (Associação Cristã de Empresários e Gestores) que decorrerá nos dias 17 e 18 de Abril cujo tema é dedicado á missão do empresário e gestor nos dias de hoje.
Se ousarmos e formos confiantes, sabendo conscientemente o que queremos, então tudo se tornará mais simples e essa simplicidade nos tornará grandes.
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