“Líderes empresariais cristãos e Portugal” foi a temática escolhida pela Associação Cristã de Gestores e Empresários (ACEGE) para o seu próximo período de actividades. No primeiro almoço-debate, estiveram presentes D. José Policarpo, Cardeal Patriarca de Lisboa e Marcelo Rebelo de Sousa que afirmou que a crise económica fez emergir um novo tipo de capitalismo que se caracteriza pela responsabilidade crescente dos gestores Na análise que fez sobre a missão futura dos empresários cristãos, Rebelo de Sousa começou por, de forma concisa, avaliar aquilo que foi o peso do Estado desde o período medieval. A monarquia absoluta redundou num corporativismo medieval sob a égide da igreja. Este corporativismo acabou por ser enquadrado pelo poder do Estado. O pombalismo foi a ideia prospectiva do Estado a assumir papel no domínio industrial e comercial. Este foi o grande domínio do Estado. Com a ruptura liberal surge a clivagem do país rural e do país urbano, uma clivagem, afirmou, que envia o país rural para a clandestinidade durante o último período monárquico e durante o republicanismo, já que a 1.ª República prolongou essa clivagem. O Estado Novo vem corporizar o regresso à legalidade do país rural, sendo que esse país rural trouxe a doutrina social da igreja. Nasceram movimentos cristãos, incluindo elementos universitários que geraram a dinâmica da transição dos anos 50/60 e que se traduziu no país urbano cristão. Nesta base estiveram cristãos da ACEGE. Esses activistas cristãos foram determinantes na mudança do país e alguns marcam os movimentos oposicionistas. As ideias novas levaram a uma alteração da missão, dos valores, da responsabilidade dos gestores e de uma nova atenção ao mundo do trabalho. A Mudança O reforço da solidariedade foi a primeira recomendação. O professor frisou que “a (solidariedade) mais forte é a solidariedade cristã”. Advertiu que esse movimento tem de se multiplicar por núcleos nacionais com o objectivo de penetrar no tecido empresarial, chegando às PME. Depois veio o rejuvenescimento. Esta recomendação, dentro da missão dos empresários cristãos, deve ser entendida como a passagem de testemunho para as novas gerações. “Futuro é dos estudantes, é dos gestores recentes, serão eles a ter o protagonismo dos próximos 20 a 30 anos”, afirmou. Dentro deste rejuvenescimento, Rebelo de Sousa salientou o facto de as mulheres serem a maioria sociológica na sociedade portuguesa. Depois vem a tão esperada reorganização das estruturas empresariais. As estruturas patronais estão obsoletas e algumas delas a morrer. Nos últimos anos nada mudou e os empresários cristãos terão de alterar esse sentido das coisas. Na missão é imprescindível o desenvolvimento do ecumenismo, e deu o exemplo recente da Fundação Aga Khan, inflectindo o discurso para as novas realidades multi-culturais. A presença nas redes sociais, associada a uma nova postura na vida é outra recomendação. Mas talvez o aspecto mais interessante da missão dos empresários cristãos seja a transversalidade. Marcelo Rebelo de Sousa disse, perante uma vasta plateia de empresários: “Não se deve deixar a mensagem cristã acantonar numa área”. O professor concluiu afirmando a necessidade de se “assumir a fé bruta menos racional”, até porque são actos significativos, embora tenha confessado a sua própria dificuldade nesse sentido. “O cristão é, por natureza, um optimista”, frisou o professor que incentivou os empresários a cumprirem a sua missão “virada para o mundo do emprego, do rejuvenescimento e dos novos desafios do bem comum”. Sustentou não ser possível a actividade (familiar, social e económica) sem oração, meditação, enriquecimento e leitura dos textos fundamentais. “Havendo esse grão, o moinho irá funcionar bem”, concluiu. Questionado sobre o papel dos leigos, Rebelo de Sousa afirmou que o seu papel não pode estar circunscrito à área político-partidária e que, desde finais dos anos 90, o movimento está mais forte. Para o professor, os cristãos, e os católicos em particular, têm obrigação de fazer sempre política e isto porque devem apoiar causas, devem estar em movimentos sindicais ou partidários e sempre próximos dos serviços comunitários. Disse ainda que o hiper-laicismo da sociedade portuguesa “já foi pior” e adiantou que “coarctar a manifestação de fé no espaço público é uma visão errada. “A nossa fé não tem de ser vivida entre a sacristia e a casa, pressupõe a inserção comunitária”.
|
|||||
Artigo publicado originalmente no jornal OJE de 12 de Outubro de 2009. Publicado com permissão. | |||||