A dar crédito a uma consulta de opinião realizada no nosso país alguns dias antes das eleições presidenciais em França, uma grande maioria dos portugueses terá ficado muito triste com a vitória do Sr. SARKOZY. Isto porque, se pudessem votar, a Sr.ª SEGOLÈNE teria sida a preferida.
De resto, a maioria dos comentadores da nossa praça, sempre se referiu ao candidato eleito em França, como uma espécie de LE PEN mais moderado, mas ainda assim, um perigosíssimo defensor da autoridade, da ordem e de outros valores de que a esquerda parece fugir, como o diabo da cruz.
Porém a maioria dos franceses, que aos olhos desses nossos comentadores deve ser ignorante, preferiu votar SARKO, o que significa que não pretende tolerar as manifestações de desacato que se têm verificado durante a noite, nas periferias suburbanas de algumas das principais cidades francesas. Que não abonam nada em termos de liberdades democráticas.
Resumindo: em nossa opinião, a maioria dos franceses, optou pela segurança – da vida familiar, da comunidade, do emprego, em detrimento do facilitismo que outras candidaturas apresentavam.
Na noite da vitória, o vencedor – próximo PR dessa grande nação que é a França, definiu algumas linhas de rumo, que a nossa ver têm a ver com a inserção geopolítica do nosso país, na EUROPA.
Parecendo um eurocéptico, porque impedirá a entrada da TURQUIA na União, enunciou, a nosso ver, um novo rumo para a política francesa, que muito tem a ver com o nosso país.
A prioridade passará a ser o MEDITERRÂNEO.
O que faz sentido. O norte da Europa, já está organizado, desenvolve-se, cria riqueza. A Leste, o mundo comandado pela Rússia, manter-se-á unido a esta. Serão infrutíferas as tentativas da Europa para se alargar para aquelas áreas. Será perder tempo e energia (que já escasseia, do lado de cá).
Resta o quê? Virar a sul.
Por muitas razões.
É do norte de África, que vêm hoje os principais desafios para a Europa, em termos de oportunidades e em termos de problemas.
Quem está em melhor posição para liderar estes desafios? A França, é claro.
Foi potência administrante da Argélia, de Marrocos e da Mauritânia, isto para citar apenas 3 países do Magreb confinantes com o sul do nosso continente.
A identidade religiosa do norte de África aconselha a encontrar um parceiro que comungue dos mesmos valores identitários. Um parceiro que esteja mais desenvolvido, mas que não seja visto como neo-colonizador.
É este o papel que a França, conforme intuímos do discurso de vitória do Sr. SARKOZY, reserva para a TURQUIA. País que, a nosso ver, pode ajudar a Europa do Sul, a organizar o mundo islâmico do norte de África.
Mundo magrebino e islâmico que é, de momento, aquele que mais problemas demográficos e sociais estão a colocar aos países do Sul da Europa, que a França aspira, e bem, a controlar.
É neste tabuleiro socio-político e geopolítico que as autoridades portuguesas devem a partir de agora movimentar-se. E os portugueses devem olhar para a França, não apenas com o país que acolheu durante 40 anos tantas centenas de milhares de compatriotas nossos, mas como a nação que nos sucedeu no norte de África, onde chegámos em 1415, quando conquistámos Ceuta.
É certo que a história, nem sempre se repete, No entanto convém conhecer a história porque ela pode dar-nos a orientação que muitas vezes parece faltar, em termos de objectivos estratégicos.
Teremos que, mesmo sem terem votado nele, estar atentos ao discurso do Sr. SARKOZY. A quem desejamos, muito sucesso na sua Presidência.
Armando Moreira
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