Na qualidade de empresário este momento é pesado. Na condição de crente, não procuramos o privilégio, mas todos os instrumentos que conduzam ao bem do outro, à dignidade da pessoa humana
POR ACÁCIO LOPES
Quem escreve estas palavras é um cidadão normal.Que sofre, que duvida, preocupado, débil na imprevisibilidade, enfim, mais um, como quase todos, com medo. Mas encontra esperança.
Estamos a falar da Covid-19. Porque outro assunto neste momento, deixa de ser assunto. Com razão! Ou talvez, não!
Vejamos:
Quantos deixaram suas casas, foram internados, impedidos de ser visitados pelos seus familiares, e não lhes coube a sorte de continuarem a gozar dos afetos, porque partiram?
Quantos desejam ver, abraçar esposa ou esposo, e não lhes é permitido?
Quantos filhos gostariam de mimar seus pais, e é-lhes proibido?
O confinamento, as ruas desertas, o silêncio. Os putos que não podem jogar à bola no parque de estacionamento; o mergulho no mar que foi proibido; sobre o avançado que, frente à baliza, dribla o guarda-redes e remata ao poste, não se fala, porque os estádios estão fechados e o futebol jogado foi proibido; a viagem de avião cancelada, porque o transporte aéreo não pode levantar voo impedindo que as pessoas se possam relacionar e trabalhar fora do seu espaço físico limitado; a senhora da limpeza que ia, já atrasada e sôfrega, iniciar o seu trabalho no hotel, foi impedida; o casal de noivos que em tudo colocou o seu amor, para presentear e surpreender o seu amado para o dia do seu casamento, recebeu a informação administrativa da impossibilidade de realizar a tão sonhada festa.
No meio de tudo isto, vemos que há uma azáfama anormal e extraordinária.
Médicos, enfermeiros, outros profissionais de saúde, políticos, e tantas outras autoridades que quase não dormem, deixam tudo, incluindo a sua segurança sanitária, pondo em risco a sua própria vida, por um motivo. Um único motivo – o próximo, a vida do outro.
Aqui muda tudo. Não podemos ter medo. Estamos perante uma vontade nobre, a vontade de Deus.
Dar a vida pelo outro. “ O que fizerdes ao menor dos meus irmãos, a Mim o fazeis” (MT 25,40)
Todo este trabalho que os profissionais de saúde estão a fazer é prova de que, na sociedade que muitas vezes apelidamos de ateia ou indiferente a Deus, Este está bem presente. E atua. Aliás, nunca existiram tantos santos, a que o Papa Francisco também chama os “ santos da porta do lado”.
Ter medo!? Quando estes santos são aplaudidos das janelas no mundo inteiro?
Não ter medo é apaixonar-se e ter orgulho por este trabalho tão puro, tão belo, que lembra a mesma aceitação com a qual Maria se disponibilizou para ser a Mãe de Jesus – fazer a vontade de Deus, a troco de … Servir.
Se a vida é o bem maior, o trabalho é um bem que, na sua ausência, desumaniza o ser humano.
Com a pandemia, a economia entrou em colapso e os agentes económicos tiveram que carregar nos seus ombros uma realidade antes nunca vivida – os pontos de venda fecharam e, como consequência, as empresas deixaram de ter justificação para continuarem a sua atividade.
O espectro dos despedimentos, os salários em atraso, o incumprimento dos compromissos financeiros na forma de empréstimos, os impostos, tomaram conta do dia-a-dia dos empresários. O pânico invade os empreendedores de um modo democrático, porque a crise tinha entrado na maioria esmagadora das atividades.
Na qualidade de empresário este momento é pesado. Na condição de crente, não procuramos o privilégio, mas todos os instrumentos que conduzam ao bem do outro, à dignidade da pessoa humana.
Na nossa impotência, devemos ter a humildade de pedir, pedir. Como?
Aqui a oração é o maior e melhor instrumento. Não devemos ter vergonha de pedir ao Pai que nos ajude a vencer as dificuldades para que as necessidades vitais de Seus filhos sejam garantidas. Não o pão para colocar nas suas mesas, mas o trabalho para conseguirem esse pão.
Neste contexto, a maioria esmagadora dos empresários tem feito um trabalho extraordinário. Fazem milagres para manter os postos de trabalho e assegurar o mínimo de segurança aos seus trabalhadores, usando em última instancia “ventiladores” para manter a vida das suas empresas. Aqui a ajuda do Estado tem sido positiva.
A grande maioria dos empresários não olhou ao lucro, mas à sobrevivência das suas empresas. Tal como os profissionais de saúde, deram e procuram dar a vida pelo próximo e pelo bem comum.
A ACEGE, Associação Cristã de Empresários e Gestores fez um trabalho notável junto dos seus associados, do governo e demais associações empresariais lembrando que fazer tudo era pouco pelo bem maior que é manter as nossas comunidades empresariais.
De facto, com a contribuição do governo, das instituições profissionais, dos trabalhadores, das IPSS, dos sindicatos, e das associações civis e religiosas, nunca tantos fizeram tanto em tão pouco tempo pela manutenção de uma ordem económica que, realmente, podia desagregar-se e criar um caos difícil de imaginar nas suas consequências.
Como cristãos, só Deus, que não adoece e não morre, nos pode dar esta segurança e esperança.
Apoiamo-nos nesta esperança cristã, que vem de Deus. Só Ele pode vir acalmar o mar, porque vai ao leme e nos quer um Bem infinito.
Assim, com o nosso trabalho, com a ajuda da ciência e das novas tecnologias, apoiadas na plataforma da fé e da oração, conseguiremos ultrapassar esta crise!
Virá o dia em que Ele diz “ lançai as redes para o lado direito e encontrareis”( Joao 21,6) e as redes chegam a abarrotar de peixe. Nesse dia podemos comer tranquilamente, distribuir e guardar o excedente. E vamos festejar!
Esta esperança, sem medo, mas plena de fé, chegará!
Não queria finalizar sem mais uma vez pedir a Deus que abençoe e dê sabedoria àqueles que tudo fizeram e fazem para manter a vida, o trabalho, as boas práticas de governação e todos os que trabalham em atividades necessárias à nossa vida quotidiana.