Em ano de competições desportivas marcantes e passada a explosão de euforia, ousamos com ponderado intervalo retirar da vitória Portuguesa no Euro 2016 lições de gestão e liderança. Estas competições são bons laboratórios para comparar com o competitivo mundo das organizações contemporâneas, sobretudo quando as vitórias são “aparentemente” inesperadas. Lições sumárias, quiçá visionárias, exemplos simples e de compreensão universal.
Olhemos para o campeonato europeu como o mercado global em que as nossas empresas e gestores competem todos os dias. Tanto mundo para um país tão pequeno. “Jogos” em terrenos alheios, quase sempre com várias frentes de dificuldades, suspeitas de resultados combinados, em que cada projecto, cada nova linha de negócio se decidirá num pormenor entre a nossa “equipa” e os concorrentes.
Primeira lição a retirar deste campeonato para a vida das empresas: em todas as competições – desportivas ou empresariais- haja sempre moderação nas expectativas, sem euforias e sem desalentos precoces. Neste “mercado”, altamente concorrencial, pouco sensível a pequenas empresas e equipas, qualquer nova investida, deve começar pela correcta gestão de expectativas. Assim fez, Portugal. No fundo: desejar tudo, esperar pouco, não pedindo nada.
Segunda lição: perante as dificuldades, começar por reconhecer as nossas falhas. Sabendo que a culpa não poderá ser sempre do “árbitro”, das lesões ou do sistema, mutatis mutandis do Estado, dos clientes ou do mercado, mas que o insucesso terá nascido da nossa preguiça, das nossas fraquezas, da nossa falta de discernimento. Este reconhecimento será a melhor forma de passar dos empates às vitórias: assim nos mostrou a Selecção Portuguesa.
Terceira lição: sejamos resilientes. Em cada “jogo” só poderão acontecer duas coisas: ou ganhamos ou aprendemos. A selecção das Quinas demonstrou-nos à saciedade que não é por não ganharmos os jogos – entenda-se o cliente, o projecto, a encomenda, o closing – à primeira, à segunda, ou à terceira que deveremos desistir.
Quarta lição: o todo é sempre mais do que a mera soma das partes. Um dos mais assinaláveis sinais desta campanha foi o profundo sentido colectivo do grupo. Os líderes das organizações que persistem certamente afiançarão que na sua história podem não ter tido os mais brilhantes operadores, engenheiros, técnicas ou gestoras, mas que foi com equipas coesas que conseguiram prosperar. Nada melhor que resumir com um acrónimo anglo-saxónico simbólico: TEAM: Together Everyone Achieves More.
Quinta lição: a equação da vitória resolve-se com muito mais transpiração do que inspiração.
Sexta lição: a humildade é o tónico perfeito para a próxima étapa. Se não temos tantos recursos como a concorrência, se os talentos aparentemente não abundam, se não há força do establishment, de uma comunicação favorável e mesmo se temos entre nós o melhor do Mundo, sejamos humildes. O orgulho precede a queda e só com um enraizado sentido de humildade, somos cada dia mais fortes, reconhecendo que poderemos sempre melhorar, sem exaltação, porque esse será o primeiro passo para a humilhação.
Sétima lição: com trabalho tudo se consegue. Toda a gente tem vontade de vencer, só vencem os que têm vontade de se preparar. A forma como muitos caíram de cansaço naquela final, se levantaram, às vezes lesionados, sem vedetismos, representam o suor que os nossos colaboradores têm em cada sessão matutina, sabendo que a receita é o trabalho. O Sol quando nasce é para todos, mas a sombra não: só beneficia quem faz por merecê-la, quem construiu o telhado ou procurou uma árvore.
Oitava lição: Todos contam. Não há melhor exemplo desta premissa para as empresas, do que aquela que o “homem golo” da final nos deixou. Elemento habitualmente ausente, em que poucos ou nenhuns acreditavam, foi chamado a dar o seu contributo. Aquele que todos criticaram, encheu o peito, acreditou, deu o melhor de si e rematou para fazer história. O “patinho feio” transformado em “cisne”, calçou e deu uma literal bofetada de luva branca ao Golias daquela disputa. Em cada uma das nossas organizações existirá certamente um “patinho feio”, em que poucos acreditam, não porque não tenha valor, mas porque certamente ainda não teve a oportunidade de mostrar o seu talento. Saibamos chamar e auxiliar todos os que estão connosco e os “golos” não tardarão.
Nona lição: Somos todos iguais: na selecção como nas organizações. Ter plena consciência que quando o jogo acaba, o rei e o peão voltam os dois para a mesma caixa. O capitão nacional, o mais valioso elemento teve o infortúnio de não poder continuar. Voltou e ajudou como pôde, unindo. Os restantes mostraram que todos eram iguais. Nas estruturas actuais, os tempos reclamam por igualdade genuína, não por Decreto. Pede-se igualdade para as mulheres no topo das organizações, igualdade no tratamento dos colaboradores, igualdade para que todos se assumam como uma peça de uma engrenagem comum, igualdade de oportunidades, numa ascensão assente no mérito, no trabalho. Jogarão aqueles que estão preparados. Esta Selecção, espelho da vida de tantas empresas, manteve um espírito unido, numa equipa de todos e para todos, humildes, abastados, nativos ou naturalizados, enfim, uma diversidade na unidade.
Décima lição: então e a Sorte que tanto bafejou Portugal, perguntarão alguns? Em vez de falarmos em Sorte – porque essa é uma espécie de injustiça natural-, embora resulte, ressalte-se a Fé e crença no nosso Valor. Essa é uma força diariamente inabalável.
Décima-primeira lição: as organizações são o espelho do seu líder. O timoneiro fala pelo grupo, acredita quando os outros desistem, coloca a fasquia alta quando é necessário, cobre as fragilidades, enaltece as virtudes, reconhece as suas culpas e é o primeiro a dar a cara nas derrotas. É prudente e simples. Acredite-se ou não, fica o registo de um timoneiro que, sem medos assumiu a sua condição. Sem restrições, assumindo o seu Credo, porque ciente da sua força interior. Quando todos desiludiam, foi sinal de Esperança. E no momento da vitória, começou por ser grato! Hoje mais do que nunca reclamam-se por organizações autênticas e lideranças sinceras, que se assumam, sem receios, num profundo respeito por todos.
São onze jogadores e onze lições. Nesta parábola, como na vida e nas empresas, há um Décimo-Segundo Jogador, que de fora puxa por todos, que marca o ritmo do “jogo”, de todas as decisões, que Está sempre presente aconteça o que acontecer. Talvez por isso, algures, esteja cinzelado ininterruptamente “Não tenhais medo”! Esta selecção, alegoria das nossas organizações, foi a prova viva de que não há razões para ter medo.