A função social do património, a par da liderança e da expressão pública da fé formam algumas das notas que o reitor da Universidade Católica, o professor Manuel Braga da Cruz, desenvolveu no último encontro da ACEGE, associação dos empresários cristãos S. Nuno de Santa Maria, ou D. Nuno Alvares Pereira, são a mesma pessoa cuja recente canonização, em Abril, serviu para o Papa Bento XVI afirmar antigos princípios no novo mundo global. Não se intitulando um “expert” no tema de S. Nuno de Santa Maria, ou D. Nuno Álvares Pereira, um herói nacional da transição dos séculos XIV para o XV, Braga da Cruz começou por afirmar a sua ligação do Santo aconteceu na instrução primária e no secundária, onde frequentou escolas com o nome do Condestável, para além de pertencer à comissão de Sta. Maria. A recente canonização de D. Nuno Álvares Pereira começou por criar um embaraço a homens públicos, que não sabiam se haveriam de estar presentes na cerimónia ou fora dela. Houve mesmo quem afirmasse, naquele momento, sublinhou Braga da Cruz, que esta “foi uma canonização fora de prazo” e foi com esta temática que o reitor da Universidade Católica defendeu a tese perfeitamente contrária. Esta canonização é a primeira de um herói nacional na época da globalização. O Papa Bento XVI falou em herói nacional que foi capaz de estender o território nacional por novos oceanos e que permitiu a chegada dos evangelhos o que, reflectido nos tempos de hoje, significa a importância das missões numa época de globalização. E o Santo Padre, frisou o reitor, quis sublinhar a matriz social na identidade nacional. Braga da Cruz parafraseou o escritor José Saramago que há uns anos terá dito numa cerimónia ocorrida no Colégio S. João de Brito, em Lisboa, que “culturalmente falando, todos somos católicos”. Na verdade, afirmou o professor Braga da Cruz, “a globalização não é dissociável das nacionalidades”. Esta não substitui as identidades nacionais ou locais e mais, “em tempos de globalização as identidades nacionais assumem importâncias maiores”. E com esta canonização, um dos primeiros objectivos do Papa foi afirmar a relevância das “matrizes culturais nas identidades nacionais”. O interlocutor realçou os dramas vividos na ex-URSS ou nos Balcãs, pois não será com processos políticos que se apagam culturas. Outro objectivo do Papa Bento XVI foi realçar a presciência de D. Nuno Álvares Pereira, da legitimidade nacional sobre a legitimidade dinástica. Foi D. Nuno Álvares Pereira quem, com o apoio popular, proclamou a legitimidade do Mestre de Avis, afirmando a prioridade da dimensão nacional. A nacionalidade Uma segunda nota de Braga da Cruz prende-se com a canonização do Condestável em termos de pacifismo antimilitarista. Não nos podemos esquecer de que o Papa disse que ele era um “exímio chefe militar” e esta afirmação é feita nos tempos modernos onde, nas sociedades do bem-estar, se tende a delegar em outros as tarefas de segurança e defesa. Nas sociedades modernas os valores típicos foram-se alterando, passando de valores como a segurança, ordem e autoridade para valores do ambiente, participação cívica e qualidade de vida. Acontece que o Papa, para canonizar um chefe militar – que pertencia a uma das mais importantes ordens de cavalaria europeia -, quis chamar a atenção para as forças de segurança e a necessidade de acautelar a paz, e isto porque a segurança não é um dado adquirido. O Papa colocou em evidência a vida de uma personagem que nunca desenvolveu guerras agressivas, apenas defensivas e foi, por isso, convertido em exemplo do militar cristão, sendo guerreiro e santo. Liderança Esta pode ser ainda entendida como expressão pública de fé. D. Nuno Álvares Pereira rezava muito e rezava em público e agradecia muito, exprimia-se em piedade na vida social. Aquilo que se pode inferir é que a religião “não se confunde com privacidade, a religião tem dimensão pública e comunitária” e o Condestável dava-lhe essa expressão pública. A concepção solidária do património é outra temática de estudo em Nuno Álvares Pereira. Não se trata aqui da história conhecida em que largou todos os seus bens e se fez deliberadamente pobre. A questão é a da função social do património no final do século XIV, que permitiu a solidificação da Casa de Bragança e cujo impacto se prolongou pelos três séculos seguintes. A compatibilidade da propriedade com a matriz social foi algo inovador. Braga da Cruz sublinha um facto exemplar de como soube dar divulgação social da propriedade privada, ou a forma como entendeu a relação com os bens patrimoniais. Crise S. Nuno de Santa Maria foi “grande na forma como sempre soube encontrar os valores da Fé”, concluiu o professor Manuel Braga da Cruz. |
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© 2009 – Todos os direitos reservados. Publicado em 7 de Julho de 2009 | |