O Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, recordou ontem que a Igreja não é contrária à obtenção de lucros financeiros, resultante das actividades produtiva, comercial ou industrial. Contudo, a partilha dos lucros e a ética na sua obtenção devem estar sujeitos aos critérios condizentes com a Doutrina Social da Igreja, destacou o prelado quando se dirigia a um grupo de empresários que participou no almoço de tomada de posse da nova direcção do núcleo de Braga da Associação Cristã de Empresários e Gestores de Empresas (ACEGE).
Falando para cerca de uma centena de gestores, D. Jorge Ortiga desafiou-os a que sejam «instrumentos de implementação da Doutrina Social da Igreja», no dia-a-dia dos seus negócios.
Porque a actual crise financeira é, segundo muitos especialistas económicos, uma crise que resulta de uma ausência de valores, o prelado destacou a «importante tarefa» reservada a uma associação como a ACEGE.
«É possível e necessário conciliar a fé com o mundo dos negócios», frisou D. Jorge Ortiga, desafiando o núcleo de Braga da associação de empresários cristãos a chegar «aos confins da diocese, desde o interior à beira-mar».
Para a ACEGE, o Arcebispo Primaz reserva ainda a tarefa de trabalhar por uma «pedagogia social» que estimule «todos para o respeito pelos deveres e direitos que têm».
Em suma, D. Jorge Ortiga apelou para que se verifique uma conciliação «da exigência pessoal com os valores da Doutrina Social da Igreja» que, defendeu, ser «o que define a acção da ACEGE».
Núcleo de Braga vai trabalhar com outras associações
Bento Ferreira é o novo presidente da direcção do núcleo de Braga da ACEGE e promete imprimir uma dinâmica que dê maior projecção ao trabalho desenvolvido pela associação não só a nível nacional como também a nível local.
O novo dirigente aponta que uma das suas estratégias passará por levar a ACEGE até às outras associações empresariais e criar plataformas de trabalho e actuação comuns. «Precisamos nas empresas de lideranças sérias para combater a crise com eficácia», sustentou Bento Ferreira, que falou aos jornalistas à margem do almoço realizado numa unidade hoteleira.
O núcleo de Braga pretende também crescer em número de associados, sendo que o seu presidente defende que «a crise não é apenas oportunidade para os empresários e gestores mas também para os trabalhadores». É que, segundo destacou o empresário, «só com o empenho de todos será possível ultrapassar a crise».
ACEGE não defende interesses corporativos
O secretário-geral da ACEGE, Jorge Líbano Monteiro, defendeu ontem em Braga que a associação que representa «é um espaço único» já que «não tem de defender interesses corporativos mas apenas princípios e valores».
Dirigindo-se aos participantes no almoço de tomada de posse da nova direcção do núcleo de Braga da ACEGE, aquele dirigente recordou que este ano ficou marcado com a realização do congresso da associação que, salientou, «claramente demonstrou a sua característica à sociedade portuguesa».
Jorge Líbano Monteiro indicou ser «essencial viver em verdade no mundo empresarial», sendo que «isso é amplamente reconhecido como urgente», acrescentou. Foi, recordou, porque «faltaram lideranças com valores» que esta crise eclodiu. «Se tivéssemos tido valores a crise teria sido mais branda», sustentou o dirigente.
Para ajudar a sociedade a ultrapassar as actuais contingências, o secretário-geral da ACE- GE recordou que a associação «está a desenvolver uma bolsa de emprego para desempregados com mais de 45 anos», através de um fundo de 2,5 milhões de euros.
A estratégia da ACEGE passa também pela criação de «estágios para seniores» à imagem dos que existem dirigidos aos jovens em busca de emprego.
Libertar mil padres para a pastoral
A ACEGE tem em curso um trabalho de apoio à Igreja em Portugal para a ajudar a organizar-se melhor, como uma empresa se tratasse, permitindo agilizar os sempre parcos recursos humanos, no que aos sacerdotes diz respeito.
«Pretende-se, com este projecto, que a Igreja se tome mais eficaz em termos organizativos», disse Jorge Libano Monteiro. O objectivo da ACEGE é tirar trabalho administrativo de cima dos ombros dos padres libertando-os para o trabalho pastoral. Este projecto vem enquadrar-se nos objectivos traçados por D. Jorge Ortiga quando assumiu a Arquidiocese de Braga. «Necessitamos de mais profissionalismo em todas as nossas actividades e iniciativas», salientou o prelado, recordando que «os resultados não se compadecem com a improvisação ou amadorismo».
Álvaro Magalhães