É minha convicção que educar, e principalmente educar para a morte, é abrir horizontes, tendo por base um conjunto de valores e de princípios orientadores, alicerçados na ética e no desenvolvimento da espiritualidade, que permitirão aos jovens fazer as suas escolhas em consciência e em liberdade, nunca perdendo de vista a sua efemeridade
POR Pe. ANTÓNIO AREIAS
Este livro constituiu uma tentativa despretensiosa de procurar entender as novas gerações com quem lido na escola e também nas comunidades em que sou pároco. Quem são estas crianças e estes jovens? Quem os educa? Como os educa? E, acima de tudo, para que fim os educa? Qual o papel da família? Qual o contributo do meio social? E, sobretudo, que peso tem a escola no crescimento integral dos jovens? Mas para respondermos a todas estas questões, uma outra muito mais importante se apresenta: o que é educar?
A pesquisa mostra-nos que a resposta não é linear, contudo também nos confirma que educar não é inculcar um conjunto de conceitos e muito menos colocar as crianças ao abrigo de todas as dificuldades. Os jovens têm de ser capazes de conviver com os problemas, com as dificuldades, com as frustrações e, em última instância, com a morte, para, no quadro das suas capacidades sociais, cognitivas, psicológicas e espirituais, irem desenvolvendo competências de superação e, portanto, de autorrealização. Os jovens têm de se entender enquanto seres espirituais capazes de traçar o seu próprio caminho, construindo o seu próprio projeto de vida, com todas as consequências que tal acarreta.
Não obstante, o laxismo que grassa na educação, não só no ambiente familiar e social, mas, sobretudo, no ambiente escolar constitui-se, não raras vezes, como um obstáculo à formulação de objetivos de vida, pois os jovens tornam-se incapazes de se questionar a si próprios e ao mundo que os rodeia. Sem objetivos e sem projetos não há sonhos e, sem sonhos, a vida é vazia de significado, ou, se preferirmos, vazia de espiritualidade. Aliás, pergunto-me, neste momento, se esta a ausência de sentido não foi o que potenciou a incidência de casos de suicídio e de tentativas de suicídio que se verificaram entre alguns dos nossos jovens, ao longo dos últimos anos.
É minha convicção que educar, e principalmente educar para a morte, é abrir horizontes, tendo por base um conjunto de valores e de princípios orientadores, alicerçados na ética e no desenvolvimento da espiritualidade, que permitirão aos jovens fazer as suas escolhas em consciência e em liberdade, nunca perdendo de vista a sua efemeridade. Por isso, falo de uma escola infelizmente real por contraponto com uma escola sentidamente reclamada.