O Seminário da Associação Portuguesa da Indústria dos Plásticos avaliou o passado, o presente e o futuro da indústria portuguesa, a partir do exemplo de um sector pilar da nossa economia. Para o professor Daniel Bessa, a grande mudança da gestão errada pelo mercado interno de Portugal para a aposta nas exportações garante-nos agora pagamentos ao exterior e um Estado com capacidade de financiamento interno e com a dívida líquida a diminuir
POR DAVID ZAMITH*
A APIP – Associação Portuguesa da Indústria dos Plásticos, a festejar os seus 40 anos de actividade associativa, organizou o seu XXXI Seminário dos Plásticos, com assinável participação, para uma Indústria pilar da nossa economia, presente no dia-a-dia das nossas vidas e em crescendo nas suas diversificadas exportações.
Um dos momentos altos foi sem dúvida a participação do professor Daniel Bessa, no seu estilo competente e extremamente clarividente, fazendo uma abordagem sobre o passado, o presente e principalmente apontando o caminho futuro para a indústria portuguesa.
Estava para acontecer e aconteceu: acabou o dinheiro. Os credores deixaram de financiar. Foram dez anos a consumir 2 milhões de euros por hora, para uma gigantesca dívida que quase se repartiu em 100% nas famílias, 100% nas empresas e 100% no Estado. Os credores davam, mas chegou o momento em que talvez cada um pudesse pagar a sua parte da dívida. Nunca todos ao mesmo tempo, afirmou Daniel Bessa, para quem a responsabilidade maior recaiu no Banco de Portugal.
Uma aposta errada de uma economia habituada a vender tudo no mercado interno, onde em 2000 parecia tudo estar bem e em crescimento, mas na realidade estávamos ancorados numa economia falsa, até ao sinistro. Aconteceu o que aconteceu, dispensando-se mais comentários, disse.
EXPORTAÇÕES
Falando sobre o nosso futuro, para um Portugal que mudou radicalmente em alguns aspectos, mas não noutros, como o das reformas estruturais do Estado, Daniel Bessa referiu que somente o factor BES fez mudar Portugal, mudando o centro do poder. E que a mudança maior é a das exportações, que cresceram de 28% do PIB, em 2008 para os actuais 44% do PIB. Dos frescos horto frutícolas aos transformados, as exportações fazem-se em todos os sectores.
Entre morrer e tentar o caminho das exportações, os empresários apostaram na exportação para uma economia madura, desenvolvida, em liberdade, em democracia… tudo isto em meia dúzia de anos. A responsabilidade maior é dos empresários!
E pela aposta acertada nas exportações, evitando a gestão de risco e do endividamento crítico, fomos capazes de ter as contas externas com Superavit! A grande mudança da gestão errada pelo mercado interno de Portugal, garante-nos agora pagamentos ao exterior, um estado com capacidade de financiamento interno e com a dívida líquida a diminuir, numa mudança extraordinária, afirmou Daniel Bessa.
Mas o Estado não mudou nada, lembrou, e não é com cortes salariais ou nas pensões (tudo é reversível) que se poderá pensar que as reformas foram realizadas, disse, questionando se depois se voltará ao passado no sector Público.
MERCADO INTERNO VERSUS EXPORTAÇÕES
Puxar a economia através do mercado interno só funciona numa economia de mercado fechado, onde quem agradece são as economias francesas ou alemãs através das nossas importações. Muitos países europeus têm uma estratégia de exportação com valores de 60%, 70%, 80% do PIB, caminho imperioso a seguir por Portugal para, através do aumento das nossas exportações, sermos capazes de criar mais receitas, mais emprego e finalmente mais mercado interno, esclareceu o Director-Geral da COTEC.
Uma aposta no crescimento das exportações para um nível de 70% do PIB
QUEM?
Através das nossas empresas, das PME (não há outras!), principalmente das que crescem na exportação, das que facturam 5 milhões e crescem para 20 milhões de euros, empresas diversificadas e pulverizadas. São essas, as que apresentam crescimento, que o Estado deve apoiar. Porque quem crescer está a ajudar a resolver o problema de Portugal.
PRÉMIO
Premiar em IRC as empresas, para quem criar aumento da massa salarial, pela criação de emprego, pelo seu crescimento, recomendou Daniel Bessa.
Numa análise sobre onde diferem as empresas portuguesas das congéneres europeias, Daniel Bessa apontou dois aspectos importantes: excesso de dívida, com um deficit de capitais próprios e dívida na banca (e daí 16% das empresas estarem em incumprimento ou só 30% a 40% das empresas estarem equilibradas); preservação, até ao fim, do controlo accionista, com um acolhimento baixíssimo na abertura ao capital externo.
INVESTIMENTO VERSUS EMPREGO:
Sobre o investimento, o professor apontou a excelência do exemplo dos investimentos das empresas alemãs em Portugal, um adepto incondicional, e que, sob todos os pontos de vista operacionais, são consideradas das mais eficientes. Mas para facilitar o investimento é fundamental reformar e facilitar o licenciamento pró investimento e pró emprego.
Crescer nas exportações de valor acrescentado é o nosso caminho de futuro.