As férias chegaram ao fim. O Outono chegou. Para mim, ainda bem que não gosto do calor em permanência e prefiro as sombras outonais.
É tempo de recomeço. Do trabalho, das canseiras, da escola, das filas para tudo e para nada e também dos sonhos a distância.
Mas porque as férias ainda estão frescas na memória, permito-me fazer algumas considerações à sua volta.
Para haver ética nas férias é necessário haver as ditas férias e a ética não estar em férias. Aliás, não haver férias é, já de si, um atentado à ética.
As férias, como o descanso semanal, contém em si o fundamento ético da sua necessidade. O direito ao repouso faz parte da natureza da pessoa humana desde os primórdios da humanidade: “Concluída no sétimo dia toda a obra que tinha feito, Deus repousou no sétimo dia do trabalho por Ele realizado. Abençoou o sétimo dia e santificou-o” (Gn.2,1-3).
O descanso não é um valor marginal em relação ao trabalho. O trabalho e o descanso contribuem, em alternância, para a realização da pessoa. Separá-los é, pois, um erro que se paga mais à frente. Como está escrito, o trabalho é para o homem, não o homem para o trabalho.
As férias não são incompatíveis com o código ético do trabalho. Não o contradizem, não o menorizam, nem mesmo beliscam o profissionalismo, o sentimento do dever cumprido, a exemplaridade laboral, o próprio prazer no trabalho.
Se ter trabalho é um factor de esperança, ter tempo é um factor de harmonia.
As férias têm que ser exigidas e, ao mesmo tempo, merecidas porque o direito ao repouso nasce da realização conjunta do direito ao trabalho e do dever de trabalhar.
Porém, em certos grupos profissionais, até parece ser “profissionalmente correcto” proclamar não se ter férias ou tê-las em versão reduzida, quanto mais não seja para gerar desconforto nos que assim não pensam.
As férias, sendo uma oportunidade de recarga pessoal, são também um espaço de reencontro familiar. Por isso, devem ser um tempo pela família (e com a família) e não um factor de desagregação contra a família.
Por detrás do trabalho de cada um, está uma família à espera!
Hoje é trivial, em certos meios designadamente urbanos, encontrar uma oferta alargada de alternativas de tempos livres que ignoram ou prejudicam a convivialidade entre diferentes gerações. Vemos, cada vez mais, as férias estratificadas por idades: filhos temporariamente em férias de pais e pais temporariamente em férias de filhos.
Embora para certas mentes pretensamente iluminadas seja proscrito falar de moral e de valores, embora o relativismo grasse e caminhe para o “único absoluto” de que tudo é relativo, embora se confunda esse mesmo relativismo com a tolerância que é o reconhecimento nos outros da liberdade de que desfrutamos, a ética no ócio não pode ser outra do que a ética no negócio: austeridade e sobriedade como valores de exigência contra a permissividade que nunca fez ninguém feliz; autenticidade do ser com o estar e o fazer; simplicidade, carácter e coerência nas atitudes.
E, já agora não querendo “confessionalizar” as férias, para os que crêem…é bom não porem a relação com Deus em férias.