Esperança e Solidariedade

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A situação em que vive actualmente o nosso país é extremamente grave. Para muitos de nós, esta é a maior crise por que passamos na nossa vida adulta, e aquela em que a saída parece menos evidente. Já não temos fundos da união europeia, já não há mais ”ouro do Brasil” que nos venha salvar.

A nossa situação é o resultado de uma década (ou mais) de irresponsabilidade colectiva. Nestes últimos 10 anos a nossa economia não cresceu, o endividamento público aumentou de forma dramática, e endividamento externo da nossa economia cresceu ainda de forma mais dramática. Não crescemos, produzimos pouca riqueza, mas nem isso nos impediu de continuar a gastar de forma descontraída, persistindo ao longo da década os deficits da balança comercial. É claro que nesta altura é fácil olhar para trás e dizer que fizemos tudo mal, tal como é fácil culpar a nossa classe politica pela situação em que nos encontramos. É reconfortante poder dizer que foi a irresponsabilidade de todos eles que nos levou à situação de aperto em que vivemos actualmente, a somar à forma ligeira e igualmente irresponsável como as agencias de rating actuaram sobre o nosso país (usando as palavras de um ilustre banqueira, disparando sobre os sobreviventes).

Mas a verdade é que a responsabilidade tem que ser assumida por todos. Fomos todos nós que persistimos em gastar aquilo que não tínhamos, em viver muito acima das nossas possibilidades, literalmente “assobiando para o lado” perante os muitos sinais de alerta que nos iam chegando.

E perante este cenário, porquê o título “Esperança e Solidariedade”?

Porque estes serão inevitavelmente tempos de esperança e de solidariedade. A única forma de Portugal sair da situação em que está é através do esforço de todos, do reconhecimento que é necessário darmos um passo atrás, voltarmos a um nível de vida consistente com a nossa capacidade de criação de riqueza, aceitando reduzir os nossos salários, redobrando a nossa produtividade, recentrando o país nas áreas em que pode ser competitivo. Mas este esforço de adaptação não se fará sem muita dor, sem muito sofrimento, e só será possível resistir a tudo isto se prevalecer o espírito de solidariedade para com os outros, e se tivermos esperança num futuro melhor.

Esperança e Solidariedade, são valores Cristãos que pertencem à nossa herança cultural, e apesar dos esforços para nos laicizar,  não desapareceram do mais intimo do ser do nosso povo. E serão valores essenciais para nos fazer dar a volta por cima. Porque sim, vamos resistir a mais esta grande provação, como temos resistido a tantas outras ao longo dos nossos séculos de história, e vamos dar a volta por cima, mas precisamos de nos unir e de lançar mãos à obra, sabendo que, nos momentos de maior dificuldade, contaremos uns com os outros, e já não com o Estado protector, porque esse deixou de ter possibilidades para nos ajudar.