Aguentar a confiança dos portugueses e refazer o sistema bancário

1919
Unidos pela fé, meia centena de empresários reuniu-se na segunda-feira para ouvir o professor universitário João César das Neves falar de «Valores e desafios para um novo paradigma na gestão». Em tempo de crise, a ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores procurou dar esperança aos empresários algarvios. 

 Recordando as palavras de Cristo – “Procurai primeiro o Reino de Deus e a Sua Justiça e tudo vos será dado por acréscimo” – João César das Neves explica que os empresários devem procurar todos os dias na terra aplicar a palavra de Deus. “Não há nenhuma organização no mundo, que tenha uma reflexão tão profunda sobre as crises como a Igreja Católica”, garante. 

 As escolhas no mundo empresarial não são fáceis. “O Senhor foi carpinteiro, era empresário no seu tempo. E trabalhou 20 e tal anos, parte deles como trabalho infantil”, comenta. Para vencer a crise que hoje atormenta os empresários portugueses, João César das Neves garante que é necessário: aguentar a confiança dos portugueses e refazer o sistema bancário. “Com esta solução poder-se-ia resolver a crise financeira, mas não todos os problemas. Portugal já estava em crise, antes de se cair em crise. Não estamos em crise financeira porque a CMVM não se despachou a dar autorização aos bancos portugueses para comprar esses novos produtos que deram origem à crise”, diz. 

 Mas esta é apenas uma questão de “obesidade” do sistema. Em 1996, a dívida total do País rondava os 8 por cento do PIB nacional. Actualmente, ronda os 100 por cento. “O Guterres comeu, comeu, foi ao nutricionista e fugiu; o Barroso foi ao nutricionista, recebeu a receita e fugiu; o Pedro Santana Lopes disse que «gordura é formosura» e foi corrido; o Sócrates fez uma lipoaspiração e continuou a comer”, justifica, acrescentando que Portugal vive hoje um paradigma: “por causa do endividamento temos de apertar o cinto; por causa da crise temos de consumir”. 

 Numa economia que se baseia na confiança das pessoas nas instituições bancárias, “quando há pânico é necessário salvar tudo”. “Os pagãos oferecem sacrifícios para ver se Ele lhes salva a vida; mas Ele disse: «Quem me quiser seguir, que pegue na sua cruz»”, afirma e “esta é a nossa cruz”. “Esta é uma crise bendita. É nestas alturas que se mete a casa em ordem”, garante. 

 Para os empresários, João César das Neves deixa o concelho: “A fidelidade e confiança faz-se de uma luta diária. Temos de lutar todos os dias de uma forma leal. É necessário cair e começar de novo, assim como fez S. Paulo com a evangelização”. 

Petra Sousa Luz

 O Algarve, 28-05-2009