No mundo empresarial, onde tudo é quantificado e valorizado e muitas vezes parece existir uma visão limitada aos números e resultados, é com surpresa que vemos a realização do curso de alta direcção de empresas “When no one sees: the importance of character in an age of image”, promovido pelo Trinity Fórum, em Geneve. Um curso que analisa a importância e a influência do carácter na gestão, identifica potenciais situações de risco para os valores e o carácter dos gestores e promove formas concretas para superar com êxito esses momentos, reforçando o carácter e os valores de cada gestor.
Se há alguns anos parecia ultrapassado e sem interesse para as empresas e grandes escolas de gestão mundial, actualmente o tema ganhou uma importância crescente, depois de demasiados escândalos empresariais, do crescimento constante dos custos em sistemas de controlo e da destruição da vida de tantos “gestores de sucesso”. Revelador deste interesse é a introdução de cadeiras e programas de estudo desta área nas melhores licenciaturas e MBA de gestão, a promoção de grupos de debate em torno da espiritualidade na gestão e o peso crescente que o carácter e os valores pessoais têm nas decisões de contratação.
Nesta mesma linha, defendia o Prof. António Borges, no último Congresso da ACEGE, que “o que faz a diferença entre uma empresa boa e uma empresa excelente não é a qualidade dos seus dirigentes, não são os grandes líderes, mas a cultura da organização e, sobretudo, os valores e as normas de conduta que as caracterizam”. Referia ainda que “esses valores, que são dados como adquiridos, que não são impostos por ninguém, que nem se discutem, são cruciais para o sucesso da empresa.” Em suma, “que não há organizações excelentes sem valores e culturas muito fortes.”
E isto porque uma cultura empresarial forte, com valores claros, é uma ajuda essencial para o desempenho dos colaboradores ao definir linhas claras de actuação e procedimentos, ao eliminar hipóteses de tentação e dúvida, ao reforçar a ligação entre colaboradores, e ao potenciar a autoconfiança necessária para as decisões tomadas em situações de fronteira, onde o certo e o errado se misturam.
É nesse sentido que, cada vez mais, as empresas têm de promover a introdução de códigos de ética empresariais, que expressem a cultura da empresa e explicitem normas de actuação, de desenvolver esquemas de avaliação, que tenham também em conta os valores que se pretendem implementar, e todo um conjunto de acções que permitam criar um clima que fortaleça a cultura da empresa e o carácter de cada colaborador.
Mas todo o esforço efectuado pela empresa, embora possa minorar possíveis desvios, nunca conseguirá ter o efeito desejado se o próprio colaborador não assumir como seus esses valores, se não perceber a importância que a sua conduta e as suas decisões têm perante o seu próprio destino. Se não tiver a noção que tal como nas empresas excelentes, a excelência do seu projecto de vida passa pela fidelidade aos valores em que acredita, sob pena de perder o respeito por si próprio.
É por isso essencial apostar no carácter dos gestores, voltar a apostar nos valores como base da sociedade que queremos construir, lutando contra a ditadura do relativismo, que nos querem impor, que não reconhece nada como definitivo e que deixa, como última medida, apenas o prazer.
As empresas já perceberam que a defesa de valores e do carácter dos seus colaboradores é essencial para o seu êxito. Os gestores começam a perceber que a sua conduta ética e a fidelidade aos valores é essencial para o desenvolvimento da sua carreira. É chegado o momento da sociedade em geral perceber que para poder sobreviver também tem de defender, com coragem, os valores que alguns querem a todo o custo destruir?