O presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores alertou na passada quarta-feira que “fazer da empresa um fim, corresponde a um erro grave” que muitas vezes é cometido. João Pedro Tavares falava em Faro na palestra que teve lugar no Colégio de Nossa Senhora do Alto, após a eucaristia celebrada na igreja de São Pedro e o jantar que se lhe seguiu naquele estabelecimento educativo da Diocese do Algarve, com a participação de cerca de 30 empresários e gestores.
Aquele responsável, que abordou o tema “Empresa como lugar de misericórdia” , deixou claro que a empresa “é um meio, mas não é um fim em si mesmo”. João Pedro Tavares lembrou, por isso, “a finalidade das organizações não é darem lucro”, mas “criarem valor”. “Qualquer organização e qualquer pessoa têm como finalidade criar valor e depois tem uma segunda finalidade: distribuir valor”, sustentou, lamentando distorções do fim a que se destina uma empresa. “A empresa de hoje em dia chega a ser um instrumento de exclusão face ao número de desempregados que temos, que muitas vezes sentem-se excluídos porque não fazem parte das empresas”, criticou.
Neste sentido, aquele líder empresarial, que é também vice-presidente de uma empresa multinacional na área da consultoria de gestão, recorreu à etimologia das palavras «corporation» e «company» (tradução de empresa em inglês) para evidenciar que a “empresa é o lugar onde deve existir o corpo para partilhar o pão”. João Pedro Tavares explicou que a missão da ACEGE é “implicar líderes” e “mobilizar a comunidade para viver o amor e a verdade no mundo económico e empresarial”, lamentando que a palavra amor não conste de “nenhum manual de economia” e a palavra verdade conste apenas de “alguns”. “Será o amor um critério de gestão? O que é que se espera de um líder que quer viver o amor como critério de gestão? Acreditam que é possível viver o amor como critério de gestão? É que se não é possível, muito menos a misericórdia que é uma forma muito específica de como se manifesta o amor”, acrescentou, explicando que um estudo sobre o “valor económico do amor” comprovou que os profissionais eram mais “felizes, produtivos, leais, realizados e equilibrados”.
O orador enumerou as principais iniciativas da ACEGE, como o código de ética empresarial, o fundo de investimento para desempregados com mais de 40 anos, os grupos “Cristo na Empresa” ou a defesa dos pagamentos pontuais. “Sabem que, devido ao facto de os pagamentos não serem pontuais em Portugal são retirados da economia 3 mil milhões de euros? E andamos, tantas vezes, a pedir fora quando se circulássemos o que temos cá dentro de uma forma responsável teríamos um desenvolvimento económico muito maior, conseguiríamos criar muitos mais postos de trabalho”, criticou.
Considerando a Bíblia como o “maior” e o “mais marcante de todos” os livros sobre liderança alguma vez publicado, onde “está descrito o carácter de 300 líderes”, João Pedro Tavares destacou o exemplo de Jesus, “o líder dos líderes”. “Qual foi o líder empresarial que viram a lavar os pés aos seus colaboradores?”, interrogou, realçando aquele “ato de misericórdia”.
Artigo originalmente publicado na Folha de Domingo