Na celebração litúrgica em honra de São José, o Santo Padre recordou a necessidade e a urgência de testemunhar na sociedade moderna o “Evangelho do Trabalho”. Nele o trabalho humano é narrado como “vocação” e constitui para cada pessoa uma dimensão fundamental da existência.
Não se apresenta como fonte de humilhação, antes de enobrecimento porque é participação da pessoa humana, com a sua iniciativa, esforço, inteligência, e vontade, no mundo criado por Deus, e ao mesmo tempo é condição da sua realização pessoal, em efectiva solidariedade com todos os outros seres humanos.
A dignidade e a santidade no trabalho realizam-se na sua dimensão subjectiva pelo aperfeiçoamento da pessoa que realiza o trabalho e na sua dimensão objectiva pela perfeição da própria obra que se concretiza. A obra pode ser de fraca qualidade por factores alheios à intenção de quem a realiza, se assim não for, a perfeição do trabalhador, operário, funcionário, gestor, dirigente de empresa, consiste no trabalho bem feito. Esta relação na ordem social é importante, porque a empresa, pública ou privada, não remunera “boas intenções”, mas resultados efectivos. Se é assim na ordem social mais o é na ordem sobrenatural em que a pessoa humana, em particular o cristão, se santifica fazendo bem o seu trabalho face a Deus, a quem não se oferecem obras descuidadas.
O trabalho é um dever. Mas é também fonte de inumeráveis direitos. Não se deve esquecer, porém, que por detrás do trabalho está sempre alguém, por isso antes de ser fonte de direitos, o trabalho é um direito da própria pessoa. Direito que a Igreja na sua doutrina social consagra expressamente. A impossibilidade ou a dificuldade de garantir plenamente este direito é expressão de grave doença social. As situações de desemprego, que geram no trabalhador dificuldades pessoais e familiares, ou o impedem de subsistir dignamente como ser humano, é um dos dramas da sociedade portuguesa a que ninguém pode ficar indiferente.
Aos direitos dos trabalhadores correspondem deveres dos dirigentes de empresa, de indiscutível relevância. Desde logo deve-se ao trabalhador a possibilidade de viver o trabalho de forma humana e digna. João Paulo II fala “do direito do trabalhador poder exprimir a própria personalidade no lugar do trabalho” e de em nada vir a ser violada “a sua consciência ou dignidade”. De facto, o trabalho não é nenhuma mercadoria que possa ser livremente comprada e vendida no mercado.
“Ele é infinitamente mais”.
Pe. Mário Rui Pedras