Portugal tem uma doença entranhada: um Estado excessivo e intrusivo na sociedade e uma sociedade que se habituou a depender do Estado. O Estado não tem limites, a sociedade não tem carácter Esta doença, verdadeira doença, atinge também a economia e os empresários: para além dos aspectos mais graves – corrupção, favores, financiamento partidário ilegítimo, tráfico de influências-, há empresários com uma atitude de medo, de subserviência, de dependência interiorizada, de resignação. Uma sociedade em que os seus sectores mais dinâmicos e os seus criadores de riqueza perdem a independência de espírito e de intervenção é uma sociedade débil. Os empresários são, por natureza, líderes, e os líderes não se deixam condicionar. A unidade do associativismo empresarial tem uma missão essencial nesta matéria. A força do associativismo empresarial protege todos no seu conjunto e serve para aumentar a autoridade moral dos criadores de riqueza diante do Estado e no seio da sociedade. Há hoje instrumentos jurídicos que protegem os empresários da prepotência do Estado, mesmo nos sectores regulados ou em que o Estado é o cliente único ou principal, assim como há instrumentos políticos e mediáticos que podem sustentar a sua independência. Há ainda o ar puro da globalização que nos permite pensar para além dos constrangimentos nacionais, enquanto nasce por aí uma nova geração empresarial, muito dinâmica e qualificada, que reforça um caminho de independência. A independência e o desassombro dos empresários, assentes na sua seriedade, são um capital social inestimável. Em Portugal ainda mais, porque as políticas públicas nos estão a levar para um abismo económico e social demasiado perigoso. Temos connosco a força dos resultados, dos riscos assumidos, dos empregos criados, dos impostos pagos, do bem comum proporcionado. E temos a alma dos empreendedores, o instinto de criar e de virar a vida do avesso, a força dos que nunca se acomodam. Isto tudo é inegociável. A independência dos empresários deve ser, no íntimo e no risco de cada um, inegociável. Só com esta atitude o Estado cumprirá o seu papel de serviço aos criadores de riqueza, susterá compadrios com alguns, alterará as leis que dificultam a nossa actividade e refreará a forma alarve e inviável como consome a riqueza que produzimos. O Estado só tem respeito por empresários com carácter, que não têm medo. *ANTÓNIO PINTO LEITE é Presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores |
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