Segunda oportunidade

1960
Gonçalo Lobo Xavier, Membro do Comité Económico e Social Europeu

No âmbito das funções que desempenho no Conselho Económico e Social Europeu, fui indicado como relator de um parecer sobre uma comunicação da Comissão Europeia, relacionada com o “Plano de Acção Empreendedorismo 2020 – Relançar o Espírito Empresarial na Europa”.

Trata-se de um documento estratégico e crucial para a definição de políticas de incentivo à criação de um ambiente favorável aos “empreendedores” de toda a europa. Pretendem-se mobilizar os estados membros no sentido de contribuir para a melhoria do contexto económico e, consequentemente, das condições de vida em geral.

Um dos temas do relatório refere a importância da alteração da “cultura vigente” relativamente ao insucesso. De facto, de uma forma geral, a cultura europeia (e se quiserem, a portuguesa em particular) é muito pouco flexível relativamente aos empresários/gestores que não têm sucesso nas suas primeiras iniciativas. Este facto tem tanto maior relevância se olharmos para o peso que um primeiro insucesso tem na vida de um empresário, sobretudo tendo em conta as consequências do ponto de vista da sua relação com o sistema de financiamento, especialmente o bancário.

Torna-se assim necessário combater uma cultura, dita europeia, que penaliza o insucesso inicial e demora a premiar os empreendedores bem-sucedidos.

Por oposição a este ambiente, é normal destacar-se o “espírito norte-americano” que vê nos gestores que não são triunfantes nas suas primeiras tentativas empresariais, exemplos de tenacidade e persistência que, aprendendo com os erros, voltam a tentar levantar negócios, ideias e projectos, resistindo aos primeiros falhanços.

É claro que este suposto apoio que o sistema americano dá aos empresários, que após os primeiros fracassos, voltam a tentar erguer as suas iniciativas, tem associado o facto cultural vigente que defende que, quem volta a tentar, aprendeu com os erros passados e está agora mais preparado para ser vencedor e está mais cuidadoso nos seus investimentos e ideias.

É aqui que reside a bondade do conceito: não se pretende desculpabilizar quem errou ou quem não foi bem-sucedido; o que pretende é apoiar quem, apesar de ter falhado uma primeira vez, pretende melhorar o seu projecto para o apresentar ao mercado com outros argumentos e de uma forma mais consistente. Não se trata pois de simplesmente perdoar o erro para posteriormente se dar uma segunda oportunidade. Antes, trata-se de dar uma outra possibilidade a quem quer mudar aprendendo com os erros do passado para criar valor. Com bom senso.

Também assim devemos actuar na nossa vida pessoal e profissional: aprender com os erros voltar ao nosso caminho e aproveitar uma segunda oportunidade para crescer. Com risco, com intenção, com melhoria contínua e persistência.

O período quaresmal que estamos a viver é propício à reflexão e à análise das “segundas oportunidades”, quer se trate do nosso caminho pessoal quer profissional.

Na ACEGE, todos somos convidados a reflectir sobre a nossa vida neste período sabendo que, bem vivida, a Quaresma conduz a uma conversão pessoal autêntica e profunda, a fim de participar na festa maior do ano: o Domingo da Ressurreição do Senhor.

Aproveitemos pois para vivermos uma segunda oportunidade com fé e verdade, com reflexo na nossa vida pessoal e profissional e com benefício para todos.

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