Mas, não sendo eu economista nem tendo pretensões para antecipar o que podem ser as perspectivas para 2023, atrevo-me, enquanto gestora, a recordar e enfatizar um conjunto de iniciativas que vários membros da ACEGE identificaram como sendo urgentes adoptar na gestão das suas empresas e no seu comportamento como gestores.
As iniciativas que refiro acima resultam do trabalho desenvolvido pelos diferentes grupos Cristo na Empresa durante o primeiro semestre de 2022. Foram apresentados no Congresso da ACEGE a 6 e 7 de Maio do mesmo ano e, a meu ver, devem servir de base ao compromisso que cada um de nós, enquanto gestores, deve ter presente na sua vida profissional e pessoal.
Recordemos então quais são esses caminhos que me atrevo a converter em intenções para 2023:
Primeira: Liderança pelo exemplo, nas pequenas e grandes coisas, no dia-a-dia:
- Ser fiel ao que está ao nosso alcance, nas nossas mãos;
- Termos capacidade de arriscar e intervir, não sermos indiferentes à realidade.
Segunda: Promover o trabalho em rede
- Se actuarmos em conjunto, e de forma mais activa, teremos todas as condições para ultrapassar os desafios que se nos colocam, não só ao nível das nossas empresas como das instituições empresariais a que estamos ligados, como por exemplo a ACEGE.
Terceira: Sermos mais activos individualmente e no colectivo
- Convocarmo-nos para maior intervenção pessoal e política, em partidos, em associações ou outras instituições com contributo para a sociedade civil, impelirmo-nos a abraçar causas com impacto na Sociedade.
Quarta: Incorporar nas políticas das empresas onde estamos, temas que possam corporizar caminhos futuros de novas lideranças em áreas como:
- O apoio à natalidade;
- A valorização das famílias;
- O acolhimento e integração profissional de migrantes;
- A aposta, na chamada, “Silver Economy” que, em muitos casos da nossa sociedade, constituiu e é o grande suporte financeiro aos mais jovens.
Quinta. Procurar materializar a economia do bem comum, promovendo:
- A dignidade da pessoa;
- A solidariedade;
- A subsidiariedade, a defesa da Casa Comum, a ecologia integral, que o Papa Francisco defende e que promove no âmbito da “Economia de Francisco”:
“O Senhor Deus colocou o homem no jardim (…), para nele trabalhar e para o guardar.” (Génesis, 2,15)
Sexta. Promover a cultura do encontro
- É inclusiva e integra todas as dimensões da nossa Vida. Deixar os “ou” para encontrar os “e”, que promovem a unidade de vida e a unidade de pensamento.
Ao revisitar o livro “Conversas em Altos Voos” de Aura Miguel, de 2017, a dada altura a jornalista pergunta ao Santo Padre:
“Santidade, na onda individualista em que vivemos parece um capricho exigir direitos, sempre mais direitos separados da busca da verdade. Crê que isto é também um problema na maneira de viver a fé?”
“Pode ser… sempre com mais exigências, sem generosidade de dar. Ou seja, é exigir só os meus direitos e não os meus deveres perante a sociedade, não é? Eu creio que direitos e deveres caminham juntos. Senão, isso cria a educação do espelho – porque a educação do espelho é o narcisismo e hoje estamos numa civilização narcisista”.
“E como se vence, como se combate?”
“Com educação. Por exemplo, com direitos e deveres com a educação dos riscos razoáveis, procurando metas, avançando e não ficando quieto ou a olhar ao espelho… Não vá acontecer-nos como aconteceu a Narciso que, de tanto se olhar espelho na água e se achar tão lindo, tão lindo, “blup” afogou-se …”
Não queremos que nos aconteça o mesmo. As empresas e o Estado são entidades abstractas, só existem porque existem pessoas. E é esta a urgência e o nosso papel enquanto Cristãos: a de não nos deixarmos afogar na vaidade do nosso sucesso!